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Covid-19: Por que, mesmo com a vacina, é preciso manter as medidas de segurança?
01 Fevereiro 2021 | Por Fernanda Fernandes
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"Trata-se do primeiro caso em que uma vacina é produzida durante a própria pandemia", diz a infectologista pediátrica Sabrina Barreiro (Imagem: almumtazza/ br.freepik.com)

Começou no Brasil a tão esperada vacinação contra a Covid-19. Profissionais de saúde que trabalham na linha de frente contra o coronavírus, idosos que vivem em asilos e indígenas que vivem em aldeias estão entre o público prioritário que vem sendo vacinado.

Não se sabe quando a vacinação será estendida a outros grupos, mas especialistas reforçam que, mesmo após a vacinação, medidas de segurança, como o isolamento social e o uso de máscaras, deverão ser mantidas por toda a população.

Em entrevista ao PORTAL MULTIRIO, a infectologista pediátrica Sabrina Barreiro fala sobre a vacina e o avanço da ciência na produção da mesma, explica o que é “imunidade de rebanho” e por que é fundamental continuar seguindo os protocolos, mesmo depois de já ter tido a doença ou de estar vacinado.

PORTAL MULTIRIO — Por que é preciso manter as medidas de segurança, mesmo depois do início da vacinação contra a Covid-19?

SABRINA BARREIRO — As medidas de segurança não devem ser reduzidas. É muito importante que continuem sendo seguidas para evitar que as pessoas sigam se contaminando.

Nesse primeiro momento, não temos vacina para todo mundo. Há um número muito reduzido, que vem sendo destinado a profissionais de saúde que estão atuando na linha de frente – nem todos os profissionais de saúde vão receber – e idosos de casa de repouso e asilos.

PM — E uma pessoa que já teve covid, ainda precisa seguir essas medidas?

SB — Infelizmente, não se pode relaxar com os protocolos de segurança, mesmo depois de já ter contraído Covid-19. Está havendo muita circulação viral e há casos  de pessoas que tiveram a doença pela segunda vez confirmados no mundo . Não é comum, mas acontece. E não se sabe ao certo o motivo, talvez por terem um sistema imune mais fraco. Os casos foram associados à não produção ou a uma produção muito baixa de anticorpo IgG.

Por conta disso, até haver imunidade de rebanho, não vamos poder parar de tomar cuidado e de seguir os procedimentos de segurança.

“[...] Se a pessoa recuperada sair para exercer atividades na rua normalmente, ela pode trazer os vírus para casa nas roupas, nas solas dos sapatos, nas mãos etc., a partir do contato com superfícies potencialmente infectadas. Por isso, o distanciamento social precisa ser mantido mesmo pelos recuperados.”

Fonte: Portal Fiocruz|Covid-19: Perguntas e respostas.

PM — O que é “imunidade de rebanho”? Por que ela é importante?

SB — No contexto da vacinação, “imunidade de rebanho” é um termo usado para quando se atinge um determinado percentual de indivíduos vacinados em uma população. Em geral, acontece quando 70 a 80 %  da população está imunizada contra determinada doença.

Ela é importante porque, com essa parcela da população imune, é possível diminuir a cadeia de transmissibilidade desse vírus, ou seja, reduzir a transmissão da doença.

PM — Por que são necessárias duas doses da vacina contra o Covid-19?

SB — Nem todas as vacinas precisam de reforço, mas a grande maioria sim. Nesse caso, por meio de estudos, foi avaliado que as pessoas que tomaram duas doses tiveram uma resposta imunológica melhor, com uma dosagem de anticorpo IgG, de fase tardia, mais alta.

Então, toma-se a primeira dose e, dias depois, um reforço. O intervalo entre as doses depende da empresa responsável pela vacina. No caso da Coronavac, é de 15 a 20 dias. Mas pode ser de 2 a 12 semanas. Cada empresa segue um protocolo, baseado nos estudos realizados.

PM — Se uma pessoa já recebeu as duas doses da vacina, ela já pode ser considerada imunizada?

SB — Se o paciente recebe duas doses da vacina, ele só pode ser considerado imunizado 14 dias depois de ter tomado a segunda dose. Isso acontece com qualquer vacina, não só com a do coronavírus.

Essa é a média de tempo necessária para o organismo produzir os anticorpos e a imunidade celular, de células T, que a gente precisa quando entra em contato com o agente agressor.

PM — Há pessoas que questionam a confiabilidade das vacinas pelo curto prazo de produção das mesmas ou pela falta de precisão sobre a origem desse vírus. O que você responderia a elas?

SB — Que foi um super avanço da ciência. Trata-se do primeiro caso em que uma vacina é produzida durante a própria pandemia. Isso porque estamos em tempos de tecnologia, com artefatos que não existiam em 1918 (ano de início da pandemia de gripe espanhola, a mais mortal de todos os tempos).

Não tínhamos, por exemplo, respirador. As pessoas morriam agonizando. Hoje em dia, temos todo um suporte de terapia intensiva, de medicina, bem avançado.

Com esse avanço, o DNA do vírus foi sequenciado em 24h. E, a partir disso, ficou muito mais fácil elaborar uma vacina, sabendo onde produzir e estimular essa imunogenicidade*.

Além disso, a vacina não partiu totalmente do zero. Já existia uma pré-vacina de outra variante dos coronavírus. Então, foi colocada a proteína Spike do novo coronavírus para que a imunogenicidade fosse induzida.

Isso é maravilhoso. Viva a ciência! Estamos em uma época de tecnologias que puderam nos permitir esse ganho tão grande.

*“Imunogenicidade é a capacidade que uma vacina tem de gerar uma resposta imune e fazer com que uma pessoa fique protegida contra determinada doença” (Fonte: Núcleo Estadual Telessaúde São Paulo Unifesp).

PM — Sobre o isolamento social e o uso da máscara, há quem argumente que são atitudes “antidemocráticas”, que “ferem a liberdade individual”. O que você pensa sobre isso?

Medidas de segurança contra Covid-19 não devem ser abandonadas pela população, segundo especialista (Imagem: stories/ br.freepik.com)

SB — Aí vai a questão do amor ao próximo. O isolamento social não te impede de ter a doença, mas impede que todo mundo adoeça ao mesmo tempo e, com isso, os hospitais lotem. Ou seja, sendo rico ou pobre, você pode não ter para onde ir quando adoecer.

Então, o isolamento não é antidemocrático. Essa doença veio mostrar que o ser humano deve ter compaixão, amor ao próximo. E uma maneira de mostrar esse amor é se isolando e evitando transmitir a doença. Porque você pode ter e ficar bem, mas também pode transmitir e matar alguém.

PM — Temos visto notícias sobre idosos e até mesmo profissionais de saúde que têm se negado a receber a vacina. Como você vê isso?

SB — Vejo com muita tristeza a questão dos profissionais de saúde se negarem a receber a vacina. A política polarizou muito o vírus. Ou você é contra ou a favor de determinada pessoa ou governo.

Além disso, existe uma política negacionista e o excesso de fake news. A pessoa nunca sabe se o que está lendo é verdade ou não.

Isso também aconteceu durante a epidemia do vírus H1N1. Houve negacionismo e pessoas dizendo que era estratégia do governo para matar os idosos. Meu avô mesmo dizia isso.

Naquela época, a vacina foi lançada em 3 meses e ninguém, em momento algum, virou “expert de vacina”, como hoje em dia, quando “todos sabem tudo de tudo”.

Acho que tudo isso é muito triste. Estamos em um momento em que temos que nos unir. Não existe kit covid, tratamento ou tratamento preventivo. A única esperança que temos é a vacina.

Toda a população deveria se unir e tomar a vacina para que a gente pare com a cadeia de transmissão. Não iremos eliminar o vírus. Mas vamos diminuir a transmissibilidade e fazer com que, quem pegue, pegue de forma mais branda.

E vamos conseguir acabar com a mortalidade, porque não é normal morrerem 1300 pacientes por dia.

PM — E qual a importância de todo mundo se vacinar?

SB — Existem pessoas que não podem tomar a vacina, por determinados problemas de saúde ou no caso de gestantes e de crianças, que ainda não foram autorizadas — mas espero que sejam em breve.

Enquanto não conseguimos vacinar toda a população, quem se vacina protege quem não está vacinado. Então, é uma corrente do bem. Eu me vacino para proteger quem eu amo.

 
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