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A trajetória de sete décadas do genial Chico Buarque
30 Junho 2014 | Por Márcia Pimentel
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CHICO1Há sete décadas, no dia 19 de junho de 1944, nascia, no bairro do Catete, um bebê chamado Francisco, que viria a se tornar um dos maiores compositores da música popular brasileira. Filho de dona Maria Amélia e do renomado historiador e professor universitário Sérgio Buarque de Holanda, que escreveu vários livros sobre a formação e a história do Brasil, Chico passou a maior parte da infância em São Paulo, pois, quando tinha um ano, o pai foi convidado para ser diretor do Museu do Ipiranga. Também viveu dois anos na Itália, entre 1953 e 1955, período em que o pai assumiu a cadeira de Estudos Brasileiros na Universidade de Roma.

A mãe, que tocava piano, garantiu a formação musical da prole de sete filhos. Mas dizem os biógrafos que foi Miúcha, a irmã mais velha, quem mais influenciou a vocação musical de Chico. Ela tinha um violão chamado Vinicius – assim batizado em homenagem ao poeta Vinicius de Moraes, amigo festeiro da família e assíduo frequentador da residência dos Buarque de Holanda. Foi nesse instrumento que ela lhe ensinou os primeiros acordes. Era também com ela que ele formava dupla para as cantorias feitas sob o caramanchão do jardim de casa. Às vezes, até paravam carros para ouvi-los. “Para nós isso era a glória”, revelou ela, em 2004, para a exposição Chico Buarque, o Tempo e o Artista, da Biblioteca Nacional. Também foi Miúcha quem emprestou dinheiro para ele comprar os primeiros LPs (long-plays) de João Gilberto.

O contato com o pai rendeu a Chico incursões diferenciadas na literatura. Com cerca de 14 anos, começou a adentrar o território “sagrado” de Sérgio: a biblioteca. “A minha tentativa de aproximação com ele foi através da literatura. Ele me indicava desde clássicos, como Flaubert, até Céline, Camus e Sartre. Li, ainda em francês, Kafka, Dostoiévski, Tolstói e uma boa dose de literatura russa. (...) Eu me lembro de, lá pelos 18 anos, ir para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) com esses livros em francês, o que era uma atitude um pouquinho esnobe e exibicionista, até que um colega me deu uma debochada: ‘Você só vem com esses livros pra cá. Por que não lê literatura brasileira?’. Eu respondi: ‘Você tem razão’.”, conta o compositor, no livro Chico Buarque, Anotações com Arte.

Foi na faculdade, onde só ficou por três anos, que começou a compor. Passava a maior parte do tempo com amigos, como Vallandro Keating, com quem fez alguns sambas entre 1963 e 64. Chico também era um dos “cativos” do Sambafo, roda de samba do porão do prédio
da FAU, que, além dos estudantes, contava sempre com a presença de vários convidados, entre eles João do Vale, Taiguara e Toquinho. CHICO3-PEDROPEDREIROEmbora tenha sido o letrista de vários sambas compostos com os amigos da faculdade, para Chico sua primeira música é Tem Mais Samba, feita para o encerramento da peça musical Balanço de Orfeu, que estreou no dia 7 de dezembro de 1964, no Teatro Maria Della Costa, em
São Paulo.

Alguns meses depois, em março de 1965, participou, na TV Excelsior, do I Festival de Música Popular Brasileira, com o samba Sonho de um Carnaval, interpretado por Geraldo Vandré e arranjado pelo maestro Erlon Chaves. A música não agradou muito ao público e aos jurados, mas integrou o seu primeiro compacto – lançado em maio, pela RGE –, que, no lado B, trazia o seu primeiro grande sucesso: Pedro Pedreiro. No fim do ano, novo compacto traz novo estrondoso êxito: Olê, Olá. Chico Buarque havia, definitivamente, caído no gosto do público e da crítica e começado a construir sua carreira como um dos maiores compositores da MPB. Nesse ano, ainda fez as músicas para o espetáculo Morte e Vida Severina, baseado nos poemas de João Cabral de Melo Neto, e lançou sua primeira parceria com Toquinho: Lua Cheia.

A consolidação do sucesso

O ano de 1966 foi de grandes mudanças para Chico. Voltou a morar no Rio de Janeiro, na Rua Prado Júnior, em Copacabana; compôs a trilha sonora do filme Anjo Assassino e da peça infantil O Patinho Feio; excursionou pela Europa com Morte e Vida Severina; viu suas músicas entrarem no repertório do show de Nara Leão e MPB4; emplacou o grande sucesso Noite dos Mascarados, que compôs para o espetáculo que fez junto com Odette Lara e (de novo) MPB4; conheceu Tom Jobim e a atriz Marieta Severo (que foi morar com ele em sua quitinete); e sua música A Banda empatou, em primeiro lugar, com Disparada, de Geraldo Vandré, no II Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record. A canção foi sucesso instantâneo e encabeçou o primeiro LP dele, que virou uma verdadeira febre nacional.

CHICO5-RODA-VIVAEm 1967, o segundo volume do LP emplacou outros grandes sucessos, como Quem Te Viu, Quem Te Vê e Com Açúcar, com Afeto. Nesse ano, Chico ficou em terceiro lugar no II Festival Internacional da Canção (FIC), da TV Globo, com a música Carolina, e no III Festival de MPB da Record, com Roda Viva, música que integrava o espetáculo teatral de mesmo nome, escrito e musicado por Chico, e que estreou em janeiro do ano seguinte, no Teatro Princesa Isabel.

Os tempos eram de protestos, e a peça – outro grande sucesso – não fugia desse tom. Após a temporada no Rio, o espetáculo seguiu para São Paulo e Porto Alegre, onde os atores foram agredidos e o cenário, destruído pelo Comando de Caça aos Comunistas. Também foi em 1968 que ele assinou suas primeiras parcerias com Tom Jobim: Retrato em Branco e Preto e Sabiá, que venceu o III FIC sob as vaias do público, que queria a vitória de Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores, de Geraldo Vandré. O ano, contudo, foi de Roda Viva, o carro-chefe do seu terceiro LP, e do Ato Institucional nº 5, baixado em meados de dezembro. Uma semana depois de instituído o AI-5, Chico é buscado de madrugada pelos militares para prestar depoimento. Em 1º de janeiro de 1969, embarca para Roma, em busca de exílio, junto com Marieta Severo, grávida de seis meses.

Na Itália, faz a gravação de voz de seu quarto LP, editado no Brasil e com sucessos como Essa Moça Tá Diferente e Gente Humilde (em parceria com Vinicius de Moraes). Ainda em 69, Chico edita dois discos com músicas suas vertidas para o italiano. Após 14 meses de autoexílio, volta para o Brasil em março de 1970. Inspirado pelo clima de censura, compõe Apesar de Você e Desalento, que integram o seu quinto LP nacional, proibido pela ditadura pouco tempo depois de lançado. Em 71, lança Construção, com canções que se tornariam grandes sucessos, ao lado da música-título: Deus Lhe Pague, Valsinha, Cotidiano, Acalanto para Helena...


Nos anos seguintes, Chico fez incursões pelo cinema (como em Quando o Carnaval Chegar, de Cacá Diegues) e pelo teatro (como em Gota D’Água, em parceria com Paulo Pontes, e Ópera do Malandro); fez seu primeiro show com Caetano Veloso (que rendeu o disco Chico e Caetano Juntos, ao Vivo) e com Maria Bethânia (que também resultou em LP); escreveu seu primeiro livro (Fazenda Modelo); e lançou novos discos com grandes e memoráveis sucessos, como as músicas feitas em parceria com Ruy Guerra para a peça Calabar, o Elogio à Traição, que, em 1973, havia sido vetada pela censura. Foi ainda na década de 70 que ele compôs O Que Será, para o filme Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto; Vai Trabalhar Vagabundo, para o filme homônimo, de Hugo Carvana; e Mulheres de Atenas, para a peça homônima, de Augusto Boal (que, exilado em Portugal, inspirou Chico a escrever o choro Meu Caro Amigo, em parceria com Francis Hime).

Com as músicas já conhecidas pelo público (como Ana de Amsterdam, Não Existe Pecado ao Sul do Equador e Cala a Boca, Bárbara, entre muitas outras), o espetáculo Calabar, o Elogio à Traição finalmente estreou em 1980, quando se iniciou o lento processo de abertura política
CHICO6-BUDAPESTdo país. Nesse mesmo ano, fez a trilha sonora dos filmes Eu Te Amo, de Arnaldo Jabor, e Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues, e compôs o
samba Morena de Angola e o bolero Bastidores, que fizeram imenso sucesso em gravações de Clara Nunes e Cauby Peixoto, respectivamente. Aliás, durante a década de 80 emplacou vários outros hits, como Valsa dos Clowns, Suburbano Coração, Almanaque, Ela É Dançarina, Mano a Mano...

Na década de 1990, Chico Buarque lançou o livro Estorvo, conquistou o Prêmio Jabuti de Literatura e se separou de Marieta Severo. Já avô de Francisco Buarque de Freitas, fruto do casamento de sua filha Helena com Carlinhos Brown, é homenageado na Passarela do Samba pela Estação Primeira de Mangueira, em 1998, quando a escola desfilou com o enredo Chico Buarque de Mangueira, com o qual se sagrou campeã. Dividindo-se entre as atividades de cantor, compositor e romancista, fez novas trilhas sonoras (como a do filme A Ostra e o Vento), lançou CDs e publicou, em 2003, o livro Budapeste – conquistando seu segundo Jabuti e o Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura. Em 2009, é a vez do romance Leite Derramado, com o qual ganhou seu terceiro Jabuti, além do Prêmio Portugal Telecom.

Segundo o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), Chico Buarque chegou aos 70 anos com 502 músicas cadastradas na entidade.

Para saber mais sobre a vida e obra de Chico Buarque, clique aqui.

 
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