O trovador Domingos Caldas Barbosa (1739-1800) retratava, em rimas, algumas das peculiaridades da população brasileira pelos idos do século XVIII:
“Não posso negar, não posso,
Não posso por mais que queira
Que o meu coração se abrasa
Da ternura brasileira”.
Nos tempos em que o vice–reinado se estabeleceu no Rio de Janeiro, quem eram aqueles homens e aquelas mulheres que circulavam pelas ruas cariocas, que frequentavam seus templos, que executavam as tarefas diárias, que participavam das festas populares? Seriam daquela forma que a modinha cantava? Afinal, como era composta a população da cidade lá pelos idos do século XVIII?
Havia o grupo de colonizadores dedicado às atividades administrativas, comerciais e religiosas. Eram funcionários reais, negociantes, importadores e exportadores, traficantes de escravos africanos, senhores de engenho, fabricantes de açúcar e de aguardente, e religiosos. Com posição social indefinida, faziam parte da população escravos, ex-escravos, homens livres pobres, enfim, “toda a gente a que se poderia emprestar a noção de povo”, segundo palavras da historiadora Maria Alice de Carvalho. Tal parcela podia ser encontrada na região próxima ao porto, onde escravas e ex-escravas vendedoras de angu se reuniam; nos quilombos localizados em regiões mais para o interior (atuais bairros de Irajá ou Santa Cruz), de onde negros e mulatos saíam para oferecer seus serviços como carroceiros, frequentemente circulando na região do centro da cidade. Nos chafarizes ou nas bicas de água, concentravam-se trabalhadores domésticos e escravos urbanos vivendo a árdua rotina do transporte de água potável para as moradias.