Esse espaço urbano singular, ao longo de sua história, ofertou aos protagonistas e aos anônimos dezenas de possibilidades: ideias e utopias, costumes e comportamentos.
Registrar com precisão o momento em que os portugueses alcançaram pela primeira vez as águas da Baía de Guanabara, que chamaram de rio, não é simples. Essa incerteza, devido à ausência de documentação, talvez indique o discreto interesse que a Coroa lusa manifestou, nos primeiros tempos, pela porção das terras americanas que lhe coube pelo Tratado de Tordesilhas. No começo do século XVI, às voltas com o lucrativo comércio obtido por meio de suas possessões localizadas na África e na Ásia, Portugal não incluiu como prioridade a região do outro lado do Atlântico.
A mudança concreta da atitude real aconteceu em razão de o extenso litoral da América portuguesa ser frequentemente alcançado por piratas e contrabandistas. Diante dessa realidade, o governo de Portugal decidiu que a pirataria oficial e a criminosa não poderiam prosseguir contatando os índios e efetivando saques de gêneros tropicais sistematicamente. Lisboa, à vista dos riscos incalculáveis, promoveu ações efetivas, como a expedição de 1530, a divisão das terras em capitanias hereditárias (incluindo a capitania do Rio de Janeiro), a criação dos governos-gerais, a desarticulação da França Antártica e a fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
A partir desses procedimentos, as águas e o chão do entorno da Baía de Guanabara testemunharam o intenso vai e vem de pessoas e de coisas rumo ao Rio de Janeiro – cidade que, sob a órbita de Portugal, e mesmo depois, se constituiu no mais importante cenário político, econômico, cultural e social da colônia. Esse espaço urbano singular, ao longo de sua história, ofertou aos protagonistas e aos anônimos dezenas de possibilidades: ideias e utopias, costumes e comportamentos. Estrangeiros vindos de todo canto, trilhando caminhos desconhecidos, alcançaram a região. Muitos europeus, aventureiramente, buscavam riquezas e honrarias. Os de origem africana, escravizados e excluídos como os povos indígenas, ignoravam o futuro.