Em 1763, a cidade litorânea e meridional, estrategicamente posicionada em relação às rotas que cruzavam o Atlântico Sul, se transformaria no centro econômico e administrativo da América portuguesa, conquistando o papel de sede do vice-reinado.
Ser morador de uma cidade não é apenas uma questão de endereço. Significa viver coletivamente, sendo capaz de decifrar os códigos de um “imenso alfabeto com o qual se montam e desmontam palavras e frases”, como afirma a professora Raquel Rolnik. Em incontáveis situações, as cidades propõem enigmas que, decifrados, ajudam a desvendar a sua história. Estudiosos voltados para o tema, como historiadores, geógrafos, urbanistas e arquitetos, entendem que é importante uma leitura cuidadosa para conhecê-las, descobrindo as suas características. Nesse sentido, os espaços urbanos, no passado ou no presente, apresentam incontáveis desafios que transpõem a barreira do tempo.
Estudos tradicionais voltados para a função das vilas e das cidades coloniais, erguidas nos primórdios da América portuguesa, analisavam esses espaços apenas como sedes do aparelho administrativo metropolitano. Entretanto, reflexões e pesquisas recentes concluíram que, inversamente ao que se imaginava, a fundação desses chãos urbanos representava uma estratégia importante adotada pela Coroa lusa, objetivando garantir o controle administrativo das terras conquistadas. A cidade do Rio de Janeiro está inserida nesse contexto.
Mesmo que a história do Rio, nascido como reduto militar, não seja determinada e nem conduzida pelo tempo cronológico, os períodos marcantes correspondentes, “as viradas do século sempre se impuseram com força na cidade”, ensina o professor Augusto Ivan de Freitas Pinheiro. No século XVI, o sítio foi alcançado; no XVII, os engenhos de açúcar se estabeleceram; no XVIII, o ouro extraído da região das Minas Gerais, escoado pelo seu porto, conferiu ao Rio maior importância e centralidade.
Seguindo, então, pela linha temporal, em 1763, a cidade litorânea e meridional, estrategicamente posicionada em relação às rotas que cruzavam o Atlântico Sul, se transformaria no centro econômico e administrativo da América portuguesa, conquistando o papel de sede do vice-reinado. O Rio setecentista viveria o tempo de reis: dos vice-reis. Uma época em que seria ponto de articulação da América portuguesa.
Memória: onde “cresce a História, que por sua vez a alimenta, procurando salvar o passado para servir o presente e o futuro” (Jacques Le Goff).