Grande parte da Europa, nos anos iniciais do século XIX, estava sob o domínio da França, governada por Napoleão Bonaparte (1769-1821) desde 1804. O grande obstáculo à consolidação do império que Bonaparte desejava construir era a Inglaterra. Três fatores dificultavam extremamente os ataques das forças militares francesas contra o reino de Jorge III (1738-1820): a posição insular, o poderio econômico e a supremacia naval. A estratégia utilizada pelo imperador francês foi decretar, em 21 de novembro de 1806, o Bloqueio Continental, que determinava o fechamento dos portos ao comércio realizado com a Inglaterra.
Napoleão pretendia enfraquecer a economia inglesa, garantindo aumento dos mercados aos produtos manufaturados franceses. Para que acontecesse o efeito desejado, importava que os países do Velho Continente (Europa) aderissem à restrição, especialmente o império russo e Portugal, que possuíam portos localizados em pontos geográficos estratégicos do continente europeu.
Porém, o governo de Portugal relutava em aderir ao Bloqueio em virtude da antiga e tradicional aliança com a Inglaterra, de quem era extremamente dependente economicamente. O príncipe regente D. João (1767-1826) vivia momentos tensos e “estava indeciso quanto à alternativa menos danosa para a monarquia portuguesa”, segundo o historiador Ilmar Rohloff de Mattos.
As tentativas de acordos do governo português com o francês não alcançavam êxito. O Reino experimentava dias sombrios. Pelos salões e pelos corredores da corte lusitana, os riscos eram avaliados, desdobrando-se em preocupações generalizadas. Rezava-se no interior das igrejas, e o futuro estava comprometido por interrogações. Misticismos e crenças ganhavam dimensões, percorriam as vielas, frequentavam as moradias, alcançavam o cais.
O cotidiano da capital, Lisboa, era fortemente tingido por boatos de toda sorte, que terminavam em falatórios e intrigas. A insegurança aumentava a cada instante naqueles primeiros tempos do século XIX. À vista disso, uma iniciativa ganhou força e significado: transferir a sede da monarquia portuguesa para as terras da sua colônia americana. Diante dos fatos, o projeto estratégico, que tratava da possibilidade de evasão em caso de risco para a Coroa portuguesa, recebeu contornos definitivos. Na manhã do dia 29 de novembro de 1807, a esquadra portuguesa, acompanhada por embarcações inglesas, finalmente partiu de Lisboa rumo ao Rio de Janeiro.