O cinema é pura magia: uma ilusão construída por imagens e sons, que desde a sua primeira sessão, realizada pelos irmãos Lumière (quando o público, assustado, correu ao ver uma locomotiva avançando em sua direção), abriu as portas para aquela que seria chamada de Sétima Arte. Talvez, em um futuro distante, alguém pesquise sobre qual o meio de expressão que impactou o século XX, revelando-se como peça essencial do imaginário coletivo. A resposta poderá ser o cinema.
Seja como fonte de entretenimento ou de interface entre os povos do planeta, universos diferenciados desfilam pela tela iluminada, sob olhares assustados ou emocionados, sempre atentos diante dos extraordinários mecanismos que produzem efeitos especiais: missões impossíveis vertiginosas, para além da imaginação. Histórias e mais histórias vividas pelas salas de exibição espalhadas pelo mundo, como aquelas que existem na cidade. Aliás, imagens da Baía de Guanabara e do Porto do Rio de Janeiro, feitas em 1898 por Affonso Segretto, que começou filmando atualidades, deixaram os primeiros registros da cinematografia no Brasil.
Entre produções e exibições, o Rio tem uma participação significativa. Em tempos republicanos, no alvorecer do século XX, um mercado de entretenimento se estabeleceu na capital federal, quando a cidade, vitrine da nação, já contava com infraestrutura elétrica. Os pequenos filmes produzidos eram exibidos para as plateias interessadas nesse tipo de diversão. Em 1930, começou a era do cinema falado e, no dia 15 de março daquele ano, foi instalado, no bairro de São Cristóvão, o primeiro estúdio de cinema brasileiro, chamado de Cinédia. A partir de 1934, após a conclusão das instalações (camarins, laboratórios, palcos e departamentos de cenários), lá foram produzidos dramas e comédias musicais de humor ingênuo, bem ao gosto popular, precursores do que ficou conhecido com o nome de chanchada.
Durante a chamada Era Vargas, começou a produção em escala industrial de filmes brasileiros, a partir da fundação da Atlântida Empresa Cinematográfica do Brasil S.A., em 13 de outubro 1941. Quando os estatutos da empresa foram apresentados e aprovados na Assembleia Geral, acontecida na Associação Comercial do Rio de Janeiro, as palavras ditas por José Carlos Burle, um dos idealizadores do empreendimento, citadas pelo professor João Luiz Vieira, destacam que o “cinema, arte resultante de todas as artes e com maior poder dentre todas, para objetivar e divulgar, adquiriu métodos próprios de expressão, fez-se arte independente e, por esse grande poder de penetrar e persuadir as mais diversas multidões, tornou-se indústria de vulto universal, órgão essencial de educação coletiva”. A Atlântida adotou, inicialmente, a temática do carnaval como fonte inspiradora. Adiante, entre as décadas de 1950 e 1960, seguiu outros caminhos, produzindo argumentos diversificados.
Daquela época até hoje, muitos passos foram dados, com centenas de filmes produzidos e exibidos para plateias que buscam informação, lazer e diversão. No Rio de Janeiro, reconhecido polo de produção cinematográfica do Brasil, multiplicaram-se os cursos de edição, roteiro e fotografia, oferecidos por diversas instituições e em diversos locais. Em 1986 foi criado, como parte do Programa de Construção de Polos Industriais da Cidade do Rio de Janeiro, o complexo chamado de Polo Rio Cine & Vídeo. O projeto, idealizado dentro dos parâmetros contemporâneos de uso e ocupação do solo, objetivava aumentar a capacidade de produção, atraindo novos investimentos para a cidade. Ocupando uma extensa área localizada no bairro de Jacarepaguá, funciona em um moderno complexo audiovisual com grandes estúdios cinematográficos e ampla infraestrutura.
Além disso, os holofotes iluminam eventos que acontecem na cidade, como o Festival do Rio, surgido em 1999; o Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro (que na edição de 2015 buscou como eixo temático os 450 anos de fundação da cidade); e o Anima Mundi (Festival Internacional de Animação do Brasil).
São palavras ditas por Charles Spencer Chaplin (1889-1977): “Num filme, o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação”.