Ninguém fotografou mais a Cidade Maravilhosa, entre 1903 e 1936, do que o alagoano Augusto César Malta de Campos. Quando deixou Mata Grande, sua terra natal, ele jamais poderia imaginar o quanto seu nome seria indissociável da memória sobre a reurbanização do Rio, no auge da Belle Époque, iniciada na gestão do prefeito Pereira Passos (1902-1906). O acervo legado faz dele um dos mais importantes fotógrafos documentaristas do século XX. Seus trabalhos correram o mundo, colaborando para construir a imagem do Rio de Janeiro como a maior referência cultural do Brasil.
Revelação lenta
Embora os pais desejassem para ele uma vida religiosa, aos 22 anos se alistou no Exército em Recife, mas foi dispensado ao fim do serviço militar obrigatório. Simpático ao regime republicano, Augusto Malta se transferiu para a capital do país no fim de 1888, a tempo de testemunhar a Proclamação da República, no Campo de Santana. Primeiro, trabalhou como auxiliar de escrita em uma loja de decoração, onde logo foi promovido a guarda-livros. Então, decidiu se arriscar como comerciante. Porém, nenhuma de suas lojinhas modestas escapou da falência. Foi só quando inovou, no ramo da venda de tecidos, e passou a visitar a clientela de bicicleta, é que sua vida mudou completamente.
O ano era 1900 e um dos fregueses lhe propôs trocar seu instrumento de trabalho por uma câmera. Não passou muito tempo para que Antônio Alves da Silva, um empreiteiro e admirador das fotos do amigo, o apresentasse a Pereira Passos. Em junho de 1903, Malta foi efetivado como fotógrafo da Prefeitura do Distrito Federal, num cargo criado especialmente para ele e subordinado à Diretoria Geral de Obras e Viação.
De início, sua principal atribuição era fotografar os imóveis que deveriam ser desapropriados e, com isso, facilitar a negociação das indenizações entre os proprietários e o poder público. No entanto, logo passaria a acompanhar o dia a dia de Pereira Passos, inclusive nas visitas protocolares das celebridades estrangeiras à Floresta da Tijuca.
Com a extinção temporária do cargo de fotógrafo oficial, a partir de 1909, função à qual só retornaria em 1913, o irrequieto Malta transformou crise em oportunidade, publicando uma edição de autor com imagens inéditas de várias cidades brasileiras, e abrindo seu próprio estúdio. Segundo historiadores, ele foi o responsável direto pelo surgimento da reportagem ilustrada no país, ao se tornar colaborador de importantes publicações da época, como as revistas Kosmos, Illustração Brasileira, Revista da Semana e Fon-Fon. Em 1932, com a substituição da Diretoria Geral de Obras e Viação pela Diretoria Geral de Engenharia, passou a ser também responsável por organizar o levantamento fotográfico e histórico de todo o material que havia produzido até então, a fim de disponibilizar as fotos de cerimônias oficiais ao Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
Visão periférica
Como não tinha nenhum contrato de exclusividade com a Prefeitura, o fotógrafo registrava as mais variadas imagens do cotidiano – carnaval, enchentes, eventos sociais e até o submundo –, por conta própria, além de prestar serviços para empresas privadas e produzir cartões postais. Em 1905, entusiasmado com este filão, se filiou à Sociedade Cartófila Emmanuel Hermann, criando as Edições Malta cinco anos mais tarde. De uma infinidade de fotos valiosas da autoria de Augusto Malta, se destacam as que retratam a construção da Avenida Central, atual Rio Branco; a demolição do Morro do Castelo; e as exposições comemorativas dos 100 anos da Abertura dos Portos (em 1908) e do Centenário da Independência do Brasil (em 1922).
Mas não foi só o meio urbano que mereceu o olhar atento do artista: entre 1913 e 1919, ele percorreu a zona rural do Rio de Janeiro, fotografando a pavimentação da Estrada Real de Santa Cruz e as escolas da região. Depois da aposentadoria, vendeu parte de seus álbuns para diversas instituições, como a Biblioteca Nacional e o Museu Paulista. Outros trabalhos de Malta fazem parte do acervo do Museu da Imagem e do Som, do Museu da República e da Casa de Rui Barbosa. O fotógrafo faleceu no Rio de Janeiro, de insuficiência cardíaca, em junho de 1957, aos 93 anos.
Fontes:
BONI, Paulo César. Augusto Malta, o documentarista das transformações urbanas do Rio de Janeiro. In: Discursos fotográficos, Londrina, v.6, n.9, p.213-222, jul/dez.2010.
MOREIRA, Regina da Luz. Augusto Malta, dono da memória fotográfica do Rio de Janeiro. In: Portal Augusto Malta do Arquivo Geral da Cidade.
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