Ela amava História e decidiu ser professora. As primeiras experiências em sala de aula, no entanto, a fizeram mudar de ideia. Mas foi ao dar uma segunda chance ao magistério que se encontrou. Hoje, Débora da Silva Lopes dos Santos leciona, educa e resgata a autoestima de alunos do Programa de Educação de Jovens e Adultos – Peja do Ciep Gregório Bezerra, na Penha (4ª CRE). Aos 31 anos, com sensibilidade, empenho e confiança em seus alunos, ela se sente desafiada a cada dia.
Museóloga e mestranda em Educação, desenvolve diversos projetos na área de Educação de Jovens e Adultos (EJA), entre os quais se destaca uma parceria com o Museu da República, que será tema de um seminário em 31 de março, às 18h, no próprio museu.
“Percebi a possibilidade de ser mais do que uma professora, uma educadora. Os alunos me ensinam, me desafiam a cada dia, me levam a uma reflexão constante sobre a minha prática. Isso faz com que eu estude, pesquise, busque novas estratégias para ensinar. Para mim, o Peja é um espaço de crescimento pessoal e profissional.”
O encontro com a EJA
Durante a adolescência, por gostar muito de estudar História, e inspirada nos bons professores que teve nessa disciplina, Débora decidiu seguir a carreira do magistério. Porém, concluiu o curso Normal com a certeza de que não queria ser professora. “Estagiei em escolas pública e particular, e achei um sistema muito difícil de lidar. Não tinha sido feliz”, relembra.
Apesar disso, prestou concurso para o Município logo que se formou e, aprovada, decidiu voltar para a sala de aula. Começou a trabalhar em julho de 2007, com uma turma de Educação Infantil na E.M. Carlos Chagas (4ª CRE), em Ramos, onde ficou por seis meses.
Nessa época, Débora estava no segundo ano da graduação em Museologia. Como o curso era em período integral, ela só teria o horário noturno para trabalhar. “Ouvi dizer que havia turmas à noite, me informei e descobri que se tratava do Peja. Disseram que não era tão fácil conseguir, mas decidi tentar. Liguei para cada uma das escolas que tinham essas turmas, até conseguir uma vaga aqui, no Ciep Gregório Bezerra, onde estou há quase dez anos.”
No caso do Peja, o professor deve ser requisitado pela Direção da escola e liberado pela unidade onde estava alocado anteriormente, para, então, assumir o cargo. “Quando cheguei aqui, percebi que queria ser professora. Foi o público com o qual eu me identifiquei e, desde então, tudo o que tenho estudado e produzido é no campo da EJA, inclusive no Mestrado”, conta a professora, que estuda Educação na PUC-Rio.
A modalidade de ensino é dividida em Peja I e Peja II, que correspondem ao primeiro e ao segundo segmento, respectivamente. Cada um é, ainda, separado em dois blocos. Em 2008, Débora entrou no Ciep lecionando para o bloco 1 do Peja I, período considerado de alfabetização dos alunos. Hoje, ela está com uma turma do bloco 2, fase de consolidação da leitura e da escrita.
De acordo com a professora, o perfil de seus alunos é de trabalhadores, em sua maioria mulheres, que possuem entre 16 e 80 anos. “Tem avó que quer aprender a ler e a escrever para ajudar o neto; alunos que buscam um nível de escolaridade maior para ter um emprego melhor; os que se sentiram humilhados pela falta da leitura e da escrita, e querem dar um basta nisso; e aqueles a quem foi negado o direito à educação, seja por falta de permissão dos pais ou porque os processos de escolarização contribuíram para que ele evadisse da escola. Temos um mundo de histórias que têm em comum, sob o meu ponto de vista, a marca da exclusão.”
A dinâmica das aulas e os desafios da EJA
Como os níveis de aprendizagem são bastante diferentes, Débora chega a fazer até três planejamentos de aula para atender à turma.
A dinâmica para agrupar todos é feita desde o primeiro encontro. Inicialmente, a professora conversa com o aluno para conhecer sua história de vida e saber por que procurou a escola. Então, faz a chamada diagnose de escrita: pede que ele escreva cinco palavras do mesmo campo semântico, avalia e, só então, organiza os grupos.
“Faço uma divisão para que os alunos não sejam desafiados demais a ponto de desistirem, mas que também não sejam pouco desafiados, a ponto de acharem que não estão aprendendo ou que está fácil demais”, explica. “Trabalho com pequenos grupos porque acredito que a troca entre eles faz com que o conhecimento seja construído.”
O assunto das aulas, no entanto, é sempre o mesmo para toda a turma. Se for biografia, por exemplo, haverá alunos que lerão um texto inteiro e outros, apenas um fragmento. “Trabalho muito com textos, sobretudo os de uso social, como receitas, cartas, bilhetes, biografia, letras de música, notícias de jornal. Eles colaboram muito com a construção e a consolidação da leitura e da escrita.”
O segredo para o bom desenvolvimento das aulas é, de acordo com Débora, uma combinação de bate-papo franco, paciência e compreensão, não apenas entre os alunos, mas deles com ela. “Sempre destaco a importância dos diferentes saberes e reforço que o fato de um aluno estar lendo um texto mais complexo não significa que ele seja melhor do que os outros. Também os faço entender que, às vezes, gasto muito mais tempo em um grupo do que em outro, mas isso não significa que eu goste mais de uns do que de outros.”
Ainda segundo ela, a Educação de Jovens e Adultos é um campo que ainda precisa avançar muito. “As disciplinas de EJA em um curso de Pedagogia, em geral, são eletivas, e não obrigatórias, como as de Educação Infantil ou Educação Especial. Da mesma forma, nem todas as universidades possuem grupos de pesquisa nessa área. Então, muitas vezes o professor chega sem formação e precisa ‘correr por fora’.”
Para se apropriar mais desse campo, Débora participa dos cursos de formação promovidos pela Gerência de EJA da Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Lazer – SMEEL, além de se dedicar a essa área em seus estudos do Mestrado.
A maior dificuldade do trabalho, diz, é lidar com a baixa autoestima dos alunos. “Por causa de anos de exclusão, eles não se compreendem capazes. Mesmo lendo, dizem não ser leitores, não se veem assim. Faço o papel de psicóloga, tentando ajudar o outro – que tem uma história de vida completamente diferente da minha – a ver que ele pode e é capaz.”
Projetos dentro e fora da escola
Atenta à realidade de seus alunos, Débora já desenvolveu os mais diferentes projetos com suas turmas. Por exemplo, depois de ouvir relatos de violência doméstica e de maridos que não permitiam que suas esposas estudassem, decidiu tratar da questão da mulher na sociedade. Em 2016, organizou um ciclo de palestras com diversos especialistas convidados para falar sobre literatura negra, saúde da mulher e movimento feminista. O projeto foi, inclusive, apresentado em um seminário de EJA promovido pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz.
Neste ano, 2017, como continuidade, convidou uma fotógrafa para fazer um ensaio com suas alunas, na semana do Dia Internacional da Mulher. “A fotografia é uma ferramenta poderosa na questão da autoestima. Quero que essas mulheres se compreendam e se vejam mais bonitas, poderosas, donas de suas histórias.”
Além de museóloga, Débora é formada em Licenciatura em História, pós-graduada em Educação Museal e estuda a EJA atrelada à questão dos museus e espaços culturais desde a graduação. Não à toa, um de seus projetos de maior destaque foi desenvolvido em parceria com o Museu da República, no ano de 2015. “A ideia central era que fizéssemos um curso de formação para que alunos da EJA mediassem uma visita dentro do museu para seus próprios colegas de turma”, explica.
De acordo com a professora, o caráter inovador do projeto esteve no fato de ser voltado a alunos de nível Fundamental (enquanto a maioria dos museus oferece cursos de mediação para pessoas de nível Médio) e, principalmente, por se tratar de uma proposta de mediação feita por e para alunos da EJA.
A proposta foi abraçada e adaptada pela Direção do museu, resultando no projeto Peja – Uma Lacuna no Museu, que contou, ainda, com uma exposição itinerária de banners, que as escolas participantes do projeto receberam em suas unidades.
Na ocasião, foram escolhidas duas alunas do Ciep Gregório Bezerra e duas do Centro Municipal de Referência de Educação de Jovens e Adultos – Creja. Durante dois meses, elas participaram semanalmente do curso de formação, que abordou conceitos de conservação, preservação, patrimônio, processos de construção de conhecimento, mediação, até chegar às peças e trabalhos do museu. Depois disso, foram organizados dois dias de visitação por alunos do Peja.
“Todos disseram aprovar a mediação por um colega de turma e a maioria pontuou que se sentiu à vontade com o modo como o colega falava, e até mesmo desinibidos para fazer perguntas. A atividade provocou uma reflexão não apenas sobre apropriação do patrimônio, mas sobre a história de vida de cada um deles. Ver que um colega que mora na mesma comunidade, que passou pelas mesmas dificuldades tem o potencial de fazer uma visita mediada com tanta qualidade fez os alunos se compreenderem capazes, protagonistas”, orgulha-se a professora, comentando que a Gerência de EJA tem interesse que o projeto continue, em parceria com outras instituições.
“Participo de muitos eventos e atividades como essa porque acho que não devemos ficar calados dentro da escola. Muitas vezes, nós, professores, nos sentimos desmotivados. Mas, quando vemos um colega desenvolvendo um trabalho incrível, nos dá um ânimo do tipo ‘não estamos sozinhos’. E eu tenho certeza de que outros docentes estão produzindo coisas maravilhosas na EJA. Torço muito por isso”. Para divulgar as atividades que desenvolve na escola, Débora usa uma página no Facebook – Peja do Gregório – e diz estimular outros docentes a mostrar os projetos realizados.
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