Durante muitos anos, as terras pertencentes ao rei de Portugal na América receberam diferentes denominações: Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz e Terra do Brasil. Os dois primeiros nomes refletiam o sentido da propagação da fé e o terceiro, o sentido mercantil da expansão marítima portuguesa. O pau-brasil, madeira útil para tingir tecidos, era o único produto encontrado no litoral com possibilidade de comercialização em larga escala.
Essas denominações falam, também, dos portugueses e de suas concepções do mundo à época das navegações. Quando, em meados do século XVI, o nome Brasil começou a prevalecer sobre o de Santa Cruz, o cronista João de Barros afirmou ser aquela uma "mudança inspirada pelo demônio, pois a vil madeira que tinge o pano de vermelho não vale o sangue vertido para a nossa salvação". E quando, no início do século seguinte, frei Vicente do Salvador escreveu a primeira História do Brasil, sustentou que "como o demônio, com o sinal da cruz, perdeu todo o domínio que tinha sobre os homens, receando perder também o muito que tinha os desta terra, trabalhou para que se esquecesse o primeiro nome e lhe ficasse o de Brasil, por causa de um pau assim chamado de cor abrasada e vermelha com que tingem panos, que o daquele divino pau, que deu tinta e virtude a todos os sacramentos da Igreja".
As disputas a respeito do nome do território evidenciam as divisões da sociedade portuguesa, na qual os valores e personagens, associados ao que então começava a ser identificado como moderno, encontravam grandes dificuldades para se afirmar. Predominava um verdadeiro temor a todo tipo de inovação vinda de fora. Muitos atribuíram aos estrangeiros e aos cristãos-novos a responsabilidade das inovações. Diziam que os estrangeiros eram impuros nas ideias, contaminados por terem entrado em contato com o mundo exterior e seus pensamentos. E os judeus, recém-convertidos à fé cristã, eram impuros na fé e no sangue. Contra ambos seriam mobilizadas forças poderosas como a Companhia de Jesus e o Tribunal do Santo Ofício – a Inquisição.
Os nomes dados à terra, assim como a tudo mais, falam ainda sobre o modo como os europeus encaravam os mundos que descobriam. A nenhum deles ocorria respeitar a nomenclatura existente dos lugares e das coisas. Talvez só uns poucos se interessaram em saber por que os nativos chamavam Ibirapitanga à terra que habitavam.
Os territórios alcançados por Cristóvão Colombo em 1492 ficariam conhecidos como América, numa espécie de homenagem ao navegador Américo Vespúcio, que fornecera inúmeras informações aos europeus sobre o novo continente. Aos habitantes das terras portuguesas chamaram índios, demonstrando ignorar a imensa diversidade que apresentavam entre si. Da mesma forma como, há muito tempo, em Portugal, eram chamados negros todos aqueles que ocupavam uma posição inferior, independente da cor da pele.
Assim, desde o início, a intenção dominadora marcou as imagens do novo território: dar nomes é conquistar; nomear é tomar; batizar é dominar.