2 Carlota Joaquina 3 corrigido T
D. Carlota Joaquina, esposa de D. João, julgava ter direito às colônias espanholas na América. Água-forte e ponteado (28,3 x 17,5 cm) de João de Mesquita e Joaquim da Costa, 1816. Domínio público, Biblioteca Nacional de Portugal

Desde os primeiros tempos da colonização da América, a região platina foi objeto de disputa entre Espanha e Portugal, especialmente a Colônia do Sacramento, atual Uruguai, também conhecida como Banda Oriental. Com a assinatura do Tratado de Badajoz, em 1801, que deu a Portugal a posse dos Sete Povos das Missões e à Espanha a Colônia do Sacramento, a paz na região parecia ter sido selada.

Entretanto, a vinda da família real para o Brasil e o domínio da Península Ibérica por Napoleão mudaram a situação. Desde o estabelecimento da corte no Rio de Janeiro, o governo português demonstrou interesse em conquistar a margem esquerda do Rio da Prata. A situação da Espanha, agora aliada da França e, portanto, inimiga de Portugal e da Inglaterra, propiciava a D. João excelente oportunidade de se instalar na cobiçada região do Prata, para o que procurou o apoio da Inglaterra. Os representantes ingleses no Rio de Janeiro não se posicionaram logo sobre a questão, escaldados que estavam por conta das duas tentativas infrutíferas realizadas em 1806 para se apossarem de Buenos Aires e de Montevidéu. Resolveram aguardar instruções de seu governo para agir. Logo depois, em setembro de 1808, informados da revolta espanhola contra o domínio francês, os ingleses desaprovaram a posição portuguesa, pois agora a Espanha voltara a ser sua aliada.

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A família do rei de Espanha, Carlos IV, deposto por Napoleão. Por ser filha dele, Carlota Joaquina nutriu o projeto de se transformar em rainha do Rio da Prata. Óleo sobre tela (280 x 336 cm) de Francisco Goya, 1800-1801. Domínio público, Museu do Prado

D. Carlota Joaquina também tinha interesses pessoais na dominação das antigas colônias espanholas, visto ser filha do rei da Espanha, Carlos IV, deposto por Napoleão, e irmã do herdeiro aprisionado pelos franceses, Fernando VII. Assim, julgava-se com direito às colônias espanholas, por ser a única representante legítima dos Bourbon espanhóis na América. Lord Strangford, encarregado pela Inglaterra de cuidar de ambas as situações, teve melhor acolhida junto a D. João, pois D. Carlota já havia estabelecido contatos com antigos colonos espanhóis, que lhe davam esperanças de conseguir o seu intento. Tolhida em sua ação por D. João, a quem a Inglaterra pedira auxílio, D. Carlota viu, aos poucos, suas aspirações irem por água abaixo, inclusive pela desconfiança dos espanhóis em relação à sua lealdade à causa da Espanha, por ser casada com o príncipe português.

Mas a dominação da Espanha pela França detonara um processo de independência entre as colônias espanholas, do qual resultaram países como a Argentina e o Paraguai, que se tornaram independentes em 1810 e 1811, respectivamente. Sob o pretexto de defender o Rio Grande dos conflitos que eclodiam em suas fronteiras, D. João organizou tropas luso-brasileiras que se dirigiram para o Sul, em direção à região platina, com a intenção de anexá-la ao império português.

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Embarque de tropas luso-brasileiras para Montevidéu. Óleo sobre tela (42 x 64 cm) de Jean-Baptiste Debret, 1826. Domínio público, Museu Imperial

Resolvidos os problemas fronteiriços, foi assinado um armistício entre o governo de D. João e a Junta que governava Buenos Aires. Mas a proclamação da independência das Províncias Unidas do Rio da Prata ocasionou a retomada de violentos conflitos na região, conhecida como a Banda Oriental do Uruguai, que não aceitava as imposições de Buenos Aires. Por esse motivo, os uruguaios retomaram a luta. Pretendendo resguardar suas fronteiras e, também, expandir o seu império, D. João ordenou a invasão e ocupação da região, que se tornou a Província Cisplatina, incorporada ao Brasil até 1827.