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O Homem Dourado. Gravura de Theodore de Bry, de 1599. A lenda sobre a existência de uma civilização de homens cobertos com ouro em pó moveu entradas e bandeiras, em sua incessante busca pelo Eldorado. Domínio público, British Museum

A Coroa portuguesa sempre acreditou na existência de metais preciosos em sua colônia e o sonho de encontrá-los nunca desapareceu. Ao contrário, foi alimentado por lendas e notícias que falavam da "costa do ouro e da prata", do "Eldorado" e da existência da misteriosa "Sabarabuçu", serra de prata e de esmeraldas.

As primeiras entradas ao sertão datam da época da expedição de Martim Afonso de Sousa. Durante os séculos XVI e XVII, colonizadores e colonos de outras capitanias participaram nas pesquisas de minerais preciosos, e inúmeras entradas partiram de diferentes pontos do litoral: Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Ceará. Ainda no século XVI, os vicentinos descobriram ouro de lavagem na própria capitania de São Vicente e, explorando o litoral sul, alcançaram os atuais estados do Paraná e Santa Catarina.

O governador-geral D. Francisco de Sousa (1599-1602) estimulou a procura de riquezas minerais. Atraído pelo ouro de aluvião e acreditando na existência de metais preciosos no interior da colônia, intensificou diretamente as expedições em busca de ouro, prata e pedras preciosas.

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A Partida dos Bandeirantes. Quadro de Clóvis Graciano, s.d. Uso amparado pela Lei 9610/98, Câmara Municipal de São Paulo

Na segunda metade do século XVII, após a União Ibérica, o Reino português passava por grave crise econômica, acentuada pela decadência do açúcar brasileiro nos mercados europeus, depois da expulsão dos holandeses. Tornava-se necessário encontrar novas fontes de renda, que propiciassem lucros à Coroa. Os reis da dinastia de Bragança, iniciada com Dom João IV, passaram a incentivar o envio de expedições ao sertão em busca de metais preciosos.

Assim, as bandeiras paulistas, por disposições expressas em Cartas Régias, passaram a buscar os lendários tesouros do sertão. Estimulado pelas promessas de prêmios e de honrarias (títulos de nobreza), o bandeirante Fernão Dias Paes, famoso apresador de índios, partiu de São Paulo em 1674, à procura de prata e esmeraldas. Conhecido, posteriormente, como o Caçador de Esmeraldas, percorreu durante sete anos os sertões do atual estado de Minas Gerais, das cabeceiras do Rio das Velhas até a zona de Serro Frio.

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Turmalina, cristal de pouco valor que o bandeirante Fernão Dias Paes acreditou ser esmeralda. Foto Rob Lavinsky, 2010. Creative Commons

De sua bandeira faziam parte seu filho, Garcia Rodrigues Paes, Matias Cardoso de Almeida, seu genro, Manuel Borba Gato e seu filho bastardo, José Dias Paes. Por onde passavam iam erguendo pousos (lugares para acampamento), que se transformaram em arraiais como Paraopeba, Sumidouro do Rio das Velhas, Roça Grande e Serro Frio. Durante a expedição, houve uma tentativa de revolta por parte de José Dias Paes, que, acusado de traição, foi condenado à morte e enforcado. Já Fernão Dias morreu acreditando ter descoberto esmeraldas, quando, na verdade, só descobrira turmalinas, pedras verdes sem grande valor. No entanto, sua bandeira foi importantíssima porque desbravou o território de Minas Gerais, onde, pouco mais tarde, no final do século XVII, seria descoberto ouro.