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O vice-rei D. Luís de Vasconcelos e Sousa, que autorizou o funcionamento da Sociedade Literária, posteriormente fechada sob a acusação de subversão de seus sócios. Óleo sobre tela (90 x 60 cm) de Leandro Joaquim, final do século XVIII. Domínio público, Museu Histórico Nacional

Em 1786, um grupo de intelectuais fundou, no Rio de Janeiro, a Sociedade Literária, onde poetas e escritores debatiam sobre assuntos culturais e científicos. Autorizados pelo vice-rei D. Luís de Vasconcelos e Sousa, o cirurgião Ildefonso José da Costa Abreu, o professor e poeta Manuel Inácio da Silva Alvarenga, o professor de grego João Marques Pinto e outros reuniam-se, todas as quintas-feiras, das oito às dez da noite, para discutir, entre outros temas, a observação do eclipse total da lua em 1787, a análise da água, o método de extrair a tinta do urucum e até os danos causados pelo alcoolismo. No entanto, os debates foram, aos poucos, incorporando os princípios filosóficos e políticos da Revolução Francesa.

Em 1794, o novo vice-rei, Conde de Rezende, recebeu uma denúncia de que membros da Sociedade conspiravam contra as autoridades portuguesas e que mostravam simpatia pelas ideias republicanas. Ante tais denúncias, a Sociedade Literária foi fechada. Em seguida, sob o pretexto de que seus sócios continuavam a reunir-se clandestinamente, o Conde de Rezende acusou-os de "subversão", mandando prendê-los. Foram recolhidas à Fortaleza da Conceição pessoas importantes na capital, como o poeta e professor Silva Alvarenga e um dos mais novos membros da Sociedade, o doutor Mariano José Pereira da Fonseca, recém-chegado de Coimbra, acusado de possuir em sua casa uma obra do filósofo francês Rousseau.

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O Rio de Janeiro na época: o Aqueduto da Carioca na confluência da Rua Mata-Cavalos (atual Rua do Riachuelo) com a Ladeira de Santa Teresa. Gravura de Richard Bate, 1820. Domínio público

A devassa instaurada quase nada apurou. Casas foram revistadas, livros e papéis, apreendidos. Após um ano, as autoridades não tinham provas concretas de que os réus pretendessem iniciar uma conspiração. Eram apenas culpados de defender, "em conversações particulares ou públicas, ideias detestáveis e perigosas" de que os governos das repúblicas eram melhores do que as monarquias e que os reis eram os tiranos opressores do povo. Dois anos depois, sem que se conseguisse nenhuma prova, os implicados foram considerados inocentes e libertados. Silva Alvarenga voltou a ensinar e o doutor Mariano, futuro Marquês de Maricá, aderiu ao movimento da independência, exercendo posteriormente os cargos de senador e ministro.