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Detalhe de manuscrito aquarelado que descreve a invasão da Baía de Guanabara pelo corsário francês Duguay-Trouin, em 1711 (Crédito: Saccardi/Biblioteca Nacional da França)

Protegido por um forte nevoeiro, o corsário francês Renê Duguay-Trouin (1663-1736) transpôs, na noite de 11 de setembro de 1711, a boca da Baía de Guanabara. Contando com o apoio do rei da França, Luís XIV, invadiu a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, pondo em risco a vida de seus habitantes. Contestava o domínio do rei de Portugal sobre o Porto do Rio, ameaçando avançar na região das Minas sob o precário controle das autoridades portuguesas. O forte vento que soprava impulsionando a esquadra francesa, composta por naus com alto poder de fogo, foi determinante para impor, em velocidade, uma rápida aproximação da Baía de Guanabara.

Duguay-Trouin alegava, como pretexto, estar vingando Duclerc (?-1711), outro corsário francês que, em 1710, pagou com a vida a tentativa de ocupar a cidade – versão oficial que justificou o ataque. A situação desta vez, porém, foi diferente. Consta que, em pânico diante da poderosa esquadra francesa composta por 18 embarcações bem armadas, que transpuseram a entrada da Baía de Guanabara – tida, até então, como inexpugnável –, o governador Francisco de Castro Morais tentou resistir, sem sucesso. Rumores circulavam dizendo que não havia como enfrentar o ataque. O pavor tomou conta das milícias, que desertaram e, tal qual a população, fugiram sem esperar o auxílio militar que vinha da região das Minas Gerais. Duguay-Trouin saqueou a cidade e ainda impôs a seus moradores um oneroso resgate: 610 mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 bois!

Quando ele partiu, após a invasão bem-sucedida, muitos dos habitantes do Rio de Janeiro voltaram a comentar, submetidos à humilhação da derrota, que, se aquela entrada, aquela porta da cidade aberta para o mar favorecia a chegada de notícias, de pessoas e de mercadorias (como escravos negros), permitia, também, o acesso de forasteiros, de doenças e de corsários.

A versão oficial dessa história contada pelos invasores certamente difere daquela contada pelo invadido.