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Carregadores de café a caminho da cidade. Gravura de 1826 (Crédito: Jean-Baptiste Debret/Museus Castro Maya – Iphan)

O hábito dos cariocas, no trabalho, em uma reunião de negócios ou em encontro com os amigos, de parar o que se estava pensando, debatendo ou comemorando para saborear um café vem de longa data. As voltas do tempo transformaram esse hábito em ritual. Obter a infusão com aquele cheirinho característico que se espalha pelos cantos de uma moradia, usando um coador de pano, como no tempo das fazendas do interior do Rio de Janeiro, sofisticou-se. Por causa dele, hoje já existe até a profissão de barista. Cafezinho presente, aquecendo o tom e a fala nas ricas conversas, em trocas memoráveis, pelas inúmeras salas de professores Brasil afora.

No tempo do governo pessoal de D. Pedro II, frequentar cafés e confeitarias na cidade do Rio de Janeiro era hábito que unia o útil ao agradável. Na virada do século XIX para o XX, a “Rua do Ouvidor ficou conhecida como Cafedório, tantos eram os cafés”, segundo palavras do escritor Carlos Kessel. No meio do burburinho, colocar a conversa em dia dentro de um ambiente sempre cheio, meio casa de família, facilitava alguma intimidade: falava-se, comentava-se sobre (quase) tudo e todos.

A cultura cafeeira foi introduzida na cidade como plantação em quintais e chácaras. No século XVIII, podia ser encontrada nos jardins das moradias, logo demonstrando boa adaptação ao clima do Rio de Janeiro. A geografia da expansão cafeeira em terras cariocas pode ser observada no texto do geógrafo Orlando Valverde: “Entre os primeiros plantios de café no Rio, houve um na Rua dos Bartolos (atual Evaristo da Veiga). Na Zona Sul (...), na encosta do Corcovado, (...) assim como nos morros vizinhos à atual Praça do Jóquei Clube. (...) Ao norte do Maciço da Carioca, havia culturas de café sobre suas vertentes, em Mata-Porcos (atual Largo do Estácio), bem como na Cascatinha da Tijuca. Os cafezais se expandiram para as encostas de Jacarepaguá, no Maciço da Pedra Branca, e para as elevações que circundam a Baixada de Santa Cruz. (...) O sítio do padre Couto, no Mendanha, (...) foi a principal propriedade cafeeira em terras cariocas, (...) e dele saíram quase todas as matrizes dos grandes cafezais fluminenses”.