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Juramento da Constituição Outorgada de 1824 pela nova rainha de Portugal, Maria da Glória (D. Maria II). Desenho de Domingos António de Sequeira, 1826. Domínio público, Museu Nacional de Arte Antiga

Numa época de muitas desconfianças em relação a D. Pedro I, aumentavam os comentários. Insinuava-se que ele, estimulado por portugueses com trânsito livre na corte, sonhava com uma possível reunificação com Portugal. Outros boatos diziam que o monarca vivia distraído, preocupando-se apenas com os problemas que envolviam a filha Maria da Glória.

Um português miguelista, que vivia no Rio de Janeiro, teria declarado que "o imperador, levado agora por Barbacena, tem dito que arranjem os negócios de Portugal (...) que ele não quer mais críticas".

No Brasil, a grande maioria das forças políticas já não acreditava na retidão ideológica de D. Pedro e no seu idealismo. Daí a grita contra o "pé de chumbo", "corcunda", "absolutista", que se espalhava pela oposição, alcançando a Câmara, a imprensa e as ruas.

Mas se no Brasil essa era a imagem de D. Pedro I, em Portugal – um reino em crise, fragilizado política e economicamente, verdadeira "panela de barro", nas palavras do historiador Pedro Octávio Carneiro da Cunha – era visto como um liberal pela maioria da população, que, a partir de 1828, lutava contra D. Miguel. Este, qualificado em correspondências imperiais como "monstruoso Miguel, o Caracala, o Calígula!", anulara, por meio de um golpe político, a Constituição outorgada pelo irmão, usurpara o trono da sobrinha e autoproclamara-se rei.

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Em março de 1828, D. Miguel dissolve a Câmara dos Deputados e, em julho, toma posse como rei absoluto de Portugal. Têmpera sobre marfim, 1828. Domínio público, Palácio Nacional de Queluz

Um impresso anônimo, sob o título Confrontações Históricas ou Meditação de Rennes, aponta comportamentos semelhantes entre D. Miguel e D. Pedro. Destaca que ambos rebelaram-se contra o pai e pegaram em armas. O mesmo documento registra: "Deus se lembre de Portugal e o livre dos manos ambos".

Tentando restaurar os direitos da filha ao trono de Portugal e contando com o apoio e o incentivo de constitucionalistas portugueses, D. Pedro resolveu auxiliar financeiramente a luta contra D. Miguel em Portugal. Isso aumentou a crise econômica e financeira vivida pelo Império do Brasil.

D. Pedro também enviou, em 1829, uma missão diplomática à Europa – agora sem o apoio de Canning, falecido em 1827 – buscando ajuda da Santa Aliança quanto aos interesses de D. Maria da Glória. Em troca, oferecia auxílio para que as repúblicas americanas fossem transformadas em monarquias.

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Para os portugueses, D. Pedro era liberal. Absolutista era D. Miguel, que, na parte superior desta gravura de 1829, é retratado sufocando indivíduos com o auxílio de D. Carlota Joaquina e do clero. Domínio público, Palácio Nacional de Queluz

Diante desses fatos, cresceu mais ainda o descontentamento das forças políticas de oposição, que entendiam que o imperador estava mais interessado na questão da sucessão do trono português do que nas dificuldades que o Brasil vinha enfrentando.