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Planta da Colônia do Sacramento, fundada às margens do Rio da Prata. Com o fim da União Ibérica, os portugueses buscaram reorganizar seu império ultramarino e colonizar o litoral meridional da América. Domínio público, Tomás Lopez de Vargas Machuca, Biblioteca Nacional de Portugal 

A Coroa portuguesa, preocupada com a sua colônia americana, procurou ampliar suas fronteiras, principalmente no sul, onde os conflitos com os espanhóis eram frequentes. Tornava-se necessário marcar presença naquele vazio territorial, naquela "terra de ninguém" ocupada pelos nativos, embora tivesse sido percorrida durante o século XVII pelos paulistas. O povoamento da região, que até então tinha se realizado sobretudo à custa dos próprios colonos, passou a ser patrocinado pelas autoridades portuguesas.

Interessado em estender seus domínios até o estuário do Prata e a continuar captando a prata peruana do porto de Buenos Aires, o príncipe regente Dom Pedro deu ordens expressas a Dom Manuel Lobo, governador do Rio de Janeiro, para fundar uma colônia fortificada, na margem direita do Rio da Prata. Com a ajuda financeira dos moradores do Rio de Janeiro, Dom Manuel organizou uma expedição formada por sete barcos, soldados, presidiários e índios, fundando, em 1680, a Colônia do Sacramento (atual cidade de Colônia, no Uruguai), em frente a Buenos Aires. A Inglaterra, interessada também em controlar o mercado platino, associou-se aos portugueses na fundação da Colônia.

Economicamente, essa região era muito importante, principalmente pelo intenso contrabando que se fazia no estuário do Prata, envolvendo tanto navios portugueses como navios mercantes ingleses. Segundo o historiador C.R. Boxer, "entre janeiro e outubro de 1735, trinta navios carregados com mercadoria para este comércio de contrabando estavam ancorados ao largo de Sacramento, inclusive quatro navios ingleses procedentes de Lisboa, possuidores de passes tanto do governo português como do governo inglês, e navegando sob as duas bandeiras, conforme lhes parecia conveniente".

Além de desempenhar papel importante no escoamento da prata peruana, vinda de Buenos Aires, o porto de Sacramento tornou-se importante mercado de couros. Entre 1726 e 1734, a exportação anual do produto variou entre 400 mil e 500 mil peças, a maior parte trazida de território espanhol.

Em pouco tempo, a Colônia do Sacramento transformou-se em florescente centro de comércio de contrabando. Sua fundação, portanto, representava uma ameaça ao monopólio espanhol na região platina, e a Colônia tornou-se alvo de constantes ataques dos espanhóis, que consideravam, ainda, a presença portuguesa uma ameaça ao controle do estuário. A região foi disputada palmo a palmo entre portugueses e espanhóis, e a Colônia passou várias vezes do domínio de Portugal para o da Espanha e vice-versa. Assinaram-se vários tratados e acordos de paz entre as duas Coroas, ocasionando recuos e avanços contínuos das fronteiras da região.

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Painel de azulejos representando a fundação da Colônia do Sacramento pelos portugueses. Foto de Fulviusbsas. Wikimedia Commons, Museu Português de Colônia

Assim, poucos meses depois de sua fundação, Sacramento foi tomada pelos espanhóis, sendo por eles ocupada de 1681 a 1683. Devolvida a Portugal, ela foi retomada, ficando novamente sob o controle espanhol de 1705 a 1716. Devido à hostilidade espanhola, a manutenção da Colônia tornou-se muito dispendiosa e o custo para conservá-la passou a ser um peso para Portugal. No entanto, apesar do pessimismo quanto ao sucesso de Sacramento, a Coroa estava decidida a não abrir mão desse prolongamento de suas terras no sul da América. Para os portugueses, o Rio da Prata era a fronteira natural entre os territórios de Portugal e da Espanha no Novo Mundo, dentro do conceito de "limites naturais" adotado na Idade Moderna.