O século XVIII foi pontuado por acontecimentos importantes na colônia portuguesa localizada na América. Correspondeu ao tempo da descoberta, da exploração e do esgotamento das minas na região das Gerais; da maior importância da cidade do Rio de Janeiro e de seu porto (por onde escoavam metais e pedras preciosas para o Reino); e das inúmeras ações da administração pombalina. Nos anos 1700, tensões políticas importantes aconteceram na colônia. Em 1792, foi registrada a presença de um patíbulo erguido numa das praças do Rio de Janeiro, em meio aos murmúrios e às sentenças de traição ao rei (lesa-majestade), encerrando, em terras cariocas, a Conjuração Mineira, com o enforcamento de Joaquim José da Silva Xavier: o Tiradentes (1746-1782).
O escritor Vivaldo Coaracy considera esse o século dos vice-reis, que dispunham de autoridade mais honorífica do que efetiva sobre as terras coloniais, pois o (verdadeiro) centro do poder estava em Lisboa. As capitanias permaneciam subordinadas ao governo de Portugal. Diante de questões como a distância e as dificuldades geográficas, considera a historiadora Armelle Enders que “quase não se comunicavam entre si, (...) eram unidas apenas por uma mesma obediência à Coroa e pela solidariedade militar”. Historiadores, como Laura de Mello e Souza, apontam que o Reino, estrategicamente, teria encontrado um meio termo entre a teoria e a prática. A rigidez normativa metropolitana foi temperada pela complacência das autoridades coloniais, o que possivelmente manteve unido e articulado o Império Ultramarino Português.
De todo modo, ocupar tal cargo nos domínios lusitanos não era atribuição dada a qualquer pessoa e nem era tarefa fácil. Os vice-reis deveriam ser, primordialmente, fidalgos com nobreza de nascimento, descendentes das famílias que remontavam à formação de Portugal, nos tempos do primeiro rei, D. Afonso Henriques (1072-1109). Escolhidos por decisão do monarca, eles, de alguma forma, tinham influência na vida política do Império Ultramarino. Tal distinção determinava lealdade para com El Rey: esses administradores, onde atuassem, deveriam sempre fazer valer os interesses do governo de Portugal.
No alvorecer do século XVIII, essa fidelidade foi mais exigida. A partir da descoberta e da exploração das jazidas auríferas, as atenções do Reino, de seus súditos e de incontáveis aventureiros (piratas e contrabandistas) se voltaram para a colônia americana e, consequentemente, para o Rio de Janeiro, que escoava tais riquezas pelo seu porto. Tido, então, como a joia da Coroa, foi a principal possessão portuguesa, superando, inclusive, a Índia, que, até ali, com seus produtos, minimizava os problemas econômicos e financeiros que atingiam os cofres lusos.
Entre os anos de 1763 e 1808, esses administradores, além de consolidar politicamente a cidade como capital do vice-reinado, deram contribuições significativas e relevantes para a melhoria do espaço urbano. O Rio de Janeiro viveu transformações: a construção de novos chafarizes (tentando solucionar a questão hídrica); a abertura de novos caminhos e novas estradas, interligando regiões; a iluminação de algumas vias públicas com candeeiros de óleo de baleia; a urbanização de praças e largos; a reforma e a ampliação de fortificações já existentes e a construção de novas.
A partir de 1763, em torno do Paço dos Vice-Reis, antigo Paço dos Governadores, pulsou o coração da cidade. O filósofo romano Sêneca (4 a.C.-65 d.C.) considerou que “nenhum vento sopra a favor de quem não sabe aonde ir”. A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, no século XVIII, centro econômico e administrativo, enxergava seus rumos.