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Combate entre naus portuguesas e navios corsários franceses. Gravura de Theodore de Bry, publicada em 1593, na segunda edição do livro Duas Viagens ao Brasil, de Hans Staden. Domínio público

As constantes invasões do litoral brasileiro por parte de franceses e de espanhóis mostraram ao rei de Portugal que a assinatura de acordos diplomáticos com países europeus não lhe assegurava o domínio do novo território americano, o Brasil. Portanto, era preciso povoá-lo. Era preciso empreender uma colonização capaz de garantir a ocupação e a defesa do litoral e, em consequência, consolidar o poder da Coroa.

Portugal, um país pequeno com população pouco numerosa, tinha os recursos comprometidos com a empresa oriental. Dom João III procurou, então, uma maneira de povoar e defender o litoral brasileiro sem onerar os cofres do Reino. Considerou também experiências já realizadas em ilhas do Atlântico e informações recolhidas pelas expedições de Cristóvão Jacques e Martim Afonso de Sousa.

Em 1534, D. João III, intitulado O Colonizador, implantou o sistema de capitanias hereditárias. Dividiu o litoral brasileiro em 14 faixas de terra, que se estendiam do Oceano Atlântico para o interior, até a linha imaginária de Tordesilhas.

O rei doou as terras a homens de sua confiança, que arcavam com o ônus do empreendimento. Esses homens, fidalgos de pouca importância social no Reino, recebiam o título de capitães-generais e tinham direito, entre outros, de transmitir as capitanias doadas aos seus herdeiros. Por essa razão, essas faixas de terra denominaram-se capitanias hereditárias.

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Com a espada na cintura, a tripulação de Cristóvão Colombo ergueu a cruz em sua chegada às Américas. Desde as Cruzadas, os dois objetos – a cruz e a espada – viraram símbolo da expansão europeia. Gravura de Theodore de Bry, publicada no livro Grandes Viagens, em 1590. Domínio público, Project Gutemberg

Os capitães-generais ou donatários, impulsionados por um grande desejo de aventura e fascinados com os relatos dos viajantes sobre riquezas, aceitavam viver numa região bem distante do seu país e assumir um compromisso tão ousado. O historiador Sérgio Buarque de Holanda diz que "a época predispunha aos gestos e façanhas audaciosos, galardoando bem os homens de grande vôo".

Outros fatores também interferiam na decisão dos capitães: a oportunidade de exercer mais poder e de expandir a fé cristã. Esses homens representariam, em suas capitanias, a espada e a cruz, símbolos das conquistas através da força das armas, da dominação pela superioridade técnica e da pregação religiosa.