5 Agostini desastre t
Desastre na ferrovia Santos-Jundiaí. Diante de seguidos acidentes e incêndios nas empresas Mauá, muitos acreditavam se tratar de sabotagem. Detalhe de desenho de Angelo Agostini, 1865. Domínio público, coleção particular

Nos anos 60 do século XIX as empresas Mauá começaram a viver uma fase crítica, somada à pressão estrangeira, que nem sempre via com simpatia a atuação do barão. O governo imperial, coagido pelos inúmeros empréstimos contraídos junto ao governo inglês, aprovou a Tarifa Silva Ferraz, que reduziu as taxas de importação sobre máquinas, ferramentas e ferragens. Isso, claro, foi um golpe para a Fundição Mauá.

Muitos comentavam que a aliança com os ingleses sobrevivera enquanto os empreendimentos de Mauá se limitaram a serviços urbanos, transportes e comunicações. Com o choque de interesses, dizia-se, surgiram atos de sabotagem às empresas Mauá. Incêndios nos estaleiros localizados na região da Ponta da Areia, na Baía de Guanabara, ocorreram sem motivo aparente. Projetos de caldeiras, guindastes e tubos sofreram danos sem que se identificassem suspeitos ou culpados.

Comentava-se que a visão emancipacionista de Mauá, bem como a sua posição contrária à Guerra do Paraguai, pontos polêmicos na época, desagradavam a muitos. O Barão escreveria em sua autobiografia:

"Quanto ao trabalho ressoam ainda aos meus ouvidos (porque sou velho) as palavras de um grande homem de Estado (...): o finado Bernardo Pereira de Vasconcelos, pronunciadas em pleno Senado (...): 'A civilização vem da África'. Essas palavras levantaram sussurro (...) no entanto (...) o grande político e profundo pensador soltara uma proposição figurada (...) que queria dizer que a única fonte ou mercado de trabalho que o Brasil tinha até então conhecido era o braço africano, que desses braços (...) vinha a produção que, convertida em riqueza, determinava (...) a civilização da nossa pátria. Não sou suspeito: então, agora e sempre, ambiciono ver desaparecer o elemento escravo da organização social do meu país".

1 Banco Maua Montevideo2 t
Nem em Montevidéu as empresas do Barão de Mauá ficaram incólumes. A agência bancária instalada na cidade foi inteiramente destruída durante a Guerra do Uruguai, em 1865. Domínio público

Naquele momento de crise, o Barão de Mauá – em cujo brasão figurava uma locomotiva e um navio a vapor, além de quatro lampiões – não contou com o auxílio do governo imperial. Não resistindo à força do capital estrangeiro, atingido pelas crises financeiras das décadas de 60 e 70, Mauá acabou falindo em 1875. Muitos dos seus empreendimentos passaram para o controle dos ingleses e dos norte-americanos, vendidos por preços mínimos.

A sabedoria popular concluía em versos:

"Não se pesca mai de rede,
Não se pode mai pescá,
Qui já sabe da nutiça,
Qui os inglês comprô o má!"