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Negro monjolo, como eram chamados os bantos oriundos do grupo étnico tios ou batequeses, do Congo (Crédito: Auguste Stahl/In: Os Fotógrafos do Império, Editora Capivara)

No dia 13 de maio de 1888, a chamada Lei Áurea consagrou juridicamente a Abolição da Escravatura, beneficiando cerca de 700 mil escravos que compunham a população do Brasil, estimada em 15 milhões de habitantes. O ato em si foi marcado por cenas fora do protocolo. O jornalista e escritor José do Patrocínio (1853-1905) atirou-se ao chão tentando beijar os pés da Princesa Isabel (1846-1921). As pessoas concentradas no Largo do Paço, após a notícia, tomaram as ruas da cidade do Rio de Janeiro, e as comemorações continuaram até altas horas da noite.

O imperador D. Pedro II (1825-1891), com a saúde frágil, diabético e sofrendo de complicações cardíacas, recebeu a notícia no exterior. Sua imagem, ao retornar, era bem diferente daquela reproduzida tempos antes nas litografias, e depois nas fotografias, que tanto apreciava. A doença do imperador fragilizava seu papel de elemento estabilizador das disputas, quer pelo prestígio pessoal, quer pelo Poder Moderador que exercia.

Por sua vez, a quadrinha popular citada pelo historiador Pedro Calmon traduzia bem o sentimento dos ex-escravos:

“Acabou-se o cativeiro
Viva a Santa Abolição
Negro agora é brasileiro
E o branco é seu irmão”.

Entretanto, após a Abolição, aquele que foi escravo tornou-se realmente livre e brasileiro? No dizer da historiadora Gladys Sabina Ribeiro, o preconceito racial estava a serviço do preconceito social, “mais explicitamente, do controle social, noção que passa pela luta de classes e pela hegemonia e projeto de dominação de um determinado grupo social, que no caso do Brasil, não por acaso era branco”