O Rio nas décadas de 1950 e 1960 passou por transformações urbanas profundas. Estudiosos consideram que o marco paisagístico do período foi o Aterro do Flamengo – uma área construída sobre aterros sucessivos realizados na Baía de Guanabara. O local, que se estende do Aeroporto Santos Dumont ao início da Praia do Flamengo, abriga o Parque Brigadeiro Eduardo Gomes, que dá nome ao complexo de lazer carioca.
As intervenções iniciais naquela região datam das primeiras décadas do século XX. Entre elas, estão a construção da Avenida Beira Mar, na administração do prefeito Francisco Pereira Passos (1836-1913), e da Praça Paris, projeto do urbanista francês Alfred Agache (1875-1934), na gestão do prefeito Antônio da Silva Prado Júnior (1880-1955).
O maior parque urbano público do Rio foi idealizado pela arquiteta autodidata Maria Carlota Costallat de Macedo Soares (1910-1967), que entendia não se tratar “de criar um parque convencional, com fontes, bancos, bustos de celebridades e playgrounds. Em sua ideia de parque estava implícita a tarefa de contribuir para a melhoria da qualidade de vida, conter a ofensiva da especulação imobiliária e possibilitar a reconciliação dos cidadãos com a sua cidade”, segundo registra a arquiteta e urbanista Ana Rosa de Oliveira.
A ideia inserida no projeto era a de criar um parque que não fosse sobrecarregado de equipamentos, de modo que os amplos espaços, sem indicação de atividades pré-definidas, sugerissem a sensação de liberdade. Assim, os usuários utilizariam as áreas de lazer da forma que escolhessem.
Outro desafio era planejar o espaço como parte de um circuito que organizasse o tráfego de veículos (entre a Zona Sul e o Centro) sem que a área perdesse sua identidade. O projeto também deveria integrar os equipamentos urbanos já existentes, como o Aeroporto Santos Dumont, de 1944, e o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra (mais conhecido como o Monumento aos Pracinhas), inaugurado em 1960.
O projeto, que contou com a participação de uma equipe composta por profissionais de áreas diversas, incluindo tráfego e infraestrutura, foi assinado pelos arquitetos Affonso Eduardo Reidy (1909-1964), Sérgio Wladimir Bernardes (1919-2002) e Jorge Machado Moreira (1904-1992). Também participaram dos trabalhos o paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994) e o botânico Luiz Emygdio de Mello Filho (1913-2002). Segundo palavras da professora Margareth da Silva Pereira, em entrevista aos pesquisadores Américo Freire e Lúcia Lippi, no ano 2000, “Reidy aprendeu cedo com Agache (de quem foi estagiário em 1929) que arquitetura e cidade têm que andar juntas”.
O Aterro foi construído com o material de desmonte do Morro de Santo Antônio, sendo necessário intervir em parte da orla do Flamengo para a realização da obra completa. O local, com uma praia bastante frequentada por banhistas, integrou-se à paisagem da cidade, tornando-se também uma de suas atrações. O Parque foi inaugurado em 1965, com a configuração que conhecemos e medindo 1,2 milhão de metros quadrados. Conhecido como Parque do Flamengo, o Aterro confirma uma tradição do Rio de tentar unir a natureza existente com importantes espaços verdes construídos pelo homem. Isso vem dos tempos da construção do Passeio Público – o primeiro parque ajardinado do Brasil, concluído em 1783, concebido pelo Mestre Valentim da Fonseca e Silva (1745-1813) e situado entre a Lapa e a Cinelândia. O Parque do Flamengo é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e abriga atrações como o Museu de Arte Moderna (MAM), a Marina da Glória, o Monumento a Estácio de Sá e o Parque Brigadeiro Eduardo Gomes, que dá o nome oficial ao complexo.
Toda essa movimentação tinha a intenção de que a Guanabara, estado-capital, permanecesse como a face do Brasil, mantendo o seu status de palco onde aconteciam significativas intervenções urbanas.