A abdicação de D. Pedro I teve reflexos violentos no Grão-Pará. Sob a liderança do cônego Batista Campos, os cabanos depuseram uma série de governantes nomeados pelo Rio de Janeiro para a província. Além disso, exigiam melhores condições materiais e a expulsão dos portugueses, vistos como os responsáveis pela miséria em que viviam.
Segundo o historiador Caio Prado Júnior, é nesse governo que propriamente se inicia a revolta. Em dezembro de 1833, o governo da Regência Trina Permanente conseguiu retomar o controle da situação, e Bernardo Lobo de Sousa assumiu o governo da província.
Logo após ser empossado, Lobo de Sousa iniciou uma violenta política repressiva. Perseguiu, efetuou prisões arbitrárias e deportações em massa. No entanto, foi o recrutamento para o Exército e a Armada imperiais, medida extremamente impopular, que precipitou uma rebelião generalizada. O recrutamento permitiu que fossem afastados os elementos considerados "incômodos" ao governo da província.
Para Domingos Antonio Raiol, contemporâneo dos acontecimentos, a política de Lobo de Sousa conseguiu eliminar aqueles que "eram conhecidos por suas doutrinas subversivas, que pregavam e inoculavam no seio da população e que ameaçavam a ordem pública pela influência perigosa que exerciam entre as massas".
As atitudes de Lobo de Sousa aumentaram a agitação e o descontentamento da população. A revolta se alastrou pelo interior da província. Os cabanos receberam o apoio dos irmãos Antônio e Francisco Vinagre, lavradores do Rio Itapicuru, do seringueiro Eduardo Nogueira Angelim e do jornalista do Maranhão Vicente Ferreira Lavor, que, por meio do periódico A Sentinella Maranhense, propagava as ideias revolucionárias.
À medida que o movimento avançava, os revoltosos se dividiam: a ameaça de radicalização fez com que muitos se retirassem, temendo a violência das massas populares, enquanto outros, como o cônego Batista Campos, esperavam obter as reformas que defendiam na recém-criada Assembleia Legislativa Provincial.
A partir daí, a elite que liderara a revolta recuou e os cabanos assumiram o controle. Em janeiro de 1835, dominaram Belém, executando o presidente da província, Lobo de Sousa, e outras autoridades. O primeiro governo cabano foi entregue ao fazendeiro Félix Antonio Malcher, que, com medo da violência das camadas mais pobres da população, entrou em choque com os outros líderes, perseguindo os elementos mais radicais. Chegou a mandar prender e deportar Angelim e Francisco Vinagre. Além disso, manifestou a intenção de manter a província ligada ao Império, ao jurar fidelidade ao imperador, afirmando que só ficaria no poder até a maioridade. Esse juramento ia de encontro ao único ponto que unia os revoltosos: a rejeição à política centralizadora do Rio de Janeiro, vista como preservadora dos privilégios dos portugueses. Malcher acabou sendo deposto e executado.
Francisco Vinagre foi escolhido para o segundo governo cabano. No entanto, não foi capaz de resolver as divergências entre os revoltosos, e foi acusado de traição por ter feito um acordo com as tropas legalistas enviadas pelo Rio de Janeiro. Vinagre ajudou as tropas e navios sob o comando do almirante inglês Taylor, e prometeu entregar a presidência da província a quem fosse indicado pelo governo regencial. As forças regenciais retomaram Belém.
Os cabanos, vencidos na capital, retiraram-se para o interior. Aos poucos foram tomando conta da província. Profundos conhecedores da terra e dos rios, infiltraram-se nas vilas e povoados, conseguindo a adesão das camadas mais humildes da população. Liderados por Vinagre e Angelim, reforçaram suas tropas e retomaram Belém, após nove dias de lutas violentas. Com a morte de Antônio, Eduardo Angelim foi escolhido para o terceiro governo cabano, que durou dez meses. Angelim era um cearense de apenas 21 anos que migrara para o Grão-Pará após uma grande seca ocorrida no Ceará, em 1827.
No entanto, os cabanos, durante todo o longo período de lutas, não souberam organizar-se com eficiência. Abalados por dissidências internas, pela indefinição de um programa de governo, sofreram ainda uma epidemia de varíola, que assolou por longo tempo a capital.