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A botica, onde se vendia remédios de manipulação, surgiu com a institucionalização do ensino de Medicina na cidade. Aquarela sobre papel de 1823 (Crédito: Jean-Baptiste Debret/Museus Castro Maya)

Em meio a inúmeros acontecimentos relevantes, como a fundação do Colégio de Pedro II ou a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o período regencial viveu tempos em que uma invisível – mas pressentida – corda bamba perturbava o sono das elites que gravitavam em torno do poder, inquietas com a possibilidade de perderem suas regalias. O período foi marcado por constantes disputas entre os grupos políticos e por levantes militares, naquele contexto crítico que tinha como palco a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Na capital do Império não aconteceriam revoltas, lutas sangrentas, como a Cabanagem (Pará, entre 1835 e 1840) ou a Farroupilha (Rio Grande do Sul, entre 1835 e 1845), mas furiosas disputas parlamentares, alguns conflitos populares e empastelamento de jornais. Tais revoltas, acontecidas nas províncias localizadas no norte e no sul do Brasil, preocuparam extremamente aqueles que eram proprietários de escravos e de terras, temendo que a anarquia levasse o império à desintegração.

Em meio a tanta instabilidade e revoltas regionais, o país perdia espaço na concorrência por mercados econômicos. Ao mesmo tempo, aumentava sua dependência em relação às potências estrangeiras da época, como a Inglaterra, que prosseguia fornecendo bens de consumo manufaturados, têxteis, que seriam acrescidos, por exemplo, depois da segunda metade do século XIX, de equipamentos para a instalação de estradas de ferro. Da França, a importação era voltada para artigos de luxo, incluindo sapatos, chapéus, perfumes e alguns produtos farmacêuticos, para compor as vitrines das lojas elegantes da Rua do Ouvidor e completar as prateleiras das boticas.

As reivindicações populares se avolumavam, ocasionando revoltas no período das regências em diversos pontos do império. Muitos dos reclamos se espalhavam pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro, onde parcelas de seus moradores buscavam o direito de maior participação na vida política e de melhores condições de vida.

Em meio a esse quadro de conflitos e de discórdias, na região do Vale do Paraíba acontecia a expansão cafeeira, fazendo surgir o poderoso grupo que seria conhecido como os barões do café. Apesar da pressão internacional promovida pela Inglaterra industrial, a manutenção da escravidão e do tráfico negreiro permanecia como ponto fundamental no Brasil. O país possuía uma economia primário-exportadora e “sem técnica própria”, segundo palavras do professor Celso Furtado. A mão de obra escrava era responsável não só pelos trabalhos na lavoura, mas também pelos domésticos e urbanos. Além disso, a extinção do tráfico negreiro e a escravidão afetaram certeiramente os grandes proprietários de escravos e de terras, justamente a camada social que sustentava o Império.