Maria Leopoldina 1815 t
Ao vir para o Brasil, em dezembro de 1817, a princesa austríaca D. Leopoldina, casada meses antes com o príncipe D. Pedro por procuração, trouxe artistas e cientistas para registrar o país desconhecido. Óleo sobre tela de Joseph Kreutzinger, 1815. Domínio público, Schönbrunn Palace, Viena

As viagens de cientistas, artistas e estudiosos tiveram um grande estímulo a partir de 1817, com o casamento da princesa Leopoldina, filha do ex-imperador da Alemanha e então imperador da Áustria, com D. Pedro, o herdeiro da Coroa portuguesa e futuro imperador do Brasil.

O grande interesse de D. Leopoldina pelas ciências naturais e pelas artes fez com que, em seu séquito, viesse uma enorme missão de cientistas e artistas europeus para explorar esse país desconhecido.

Nela vieram o médico e botânico Von Martius e o zoólogo Von Spix, ambos alemães. Até 1818 estudaram a natureza das vizinhanças da corte, e então iniciaram sua grande expedição, dirigindo-se a São Paulo, de onde seguiram viagem para Minas Gerais. Estiveram em Ouro Preto e Diamantina, alcançando o Rio São Francisco e, pelas suas margens, chegaram à Bahia, onde embrenharam-se pelo sertão baiano, indo de lá para a zona das secas de Pernambuco, Piauí e Maranhão. Pegaram um navio em São Luís e foram para Belém do Pará, chegando lá em meados de 1819. De Belém, subiram o Rio Amazonas até o Solimões, onde se separaram. Spix seguiu viagem pelo Amazonas até os limites do Peru, enquanto Martius seguia o Rio Japurá até a fronteira com a Colômbia. Reencontraram-se no Rio Negro para navegar pelo Rio Madeira acima. Voltaram para o seu país em junho de 1820, após três anos de abundantes pesquisas e muitos riscos, durante os quais percorreram uma extensão de cerca de 10 mil quilômetros.

De acordo com Sérgio Buarque de Holanda, "conseguiram reunir 6.500 variedades da flora, 85 espécies de mamíferos, 350 de aves, 130 de anfíbios, 146 de peixes e 2.700 insetos". Na Alemanha, publicaram a obra Viagem pelo Brasil em três volumes, que é considerada fonte de referência obrigatória para os estudos do Brasil da época.

Ender Campo Santana t
Thomas Ender registrou vários pontos do Rio de Janeiro e de outras localidades. Na imagem, a Igreja de Santana e o Chafariz das Lavadeiras, no Campo de Santana, em 1817. Domínio público, Academia de Belas Artes de Viena

Na comitiva da princesa veio, também, o pintor austríaco Thomas Ender, que viajou pelo interior do Brasil retratando paisagens e cenas da vida do povo, em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Deixou mais de 800 desenhos e aquarelas, entre as quais uma aquarela pintada em 1817, que retrata a própria viagem de seu grupo pelo Brasil, intitulada Cientistas da Missão Austríaca e Tropa Atravessando a Floresta da Serra do Mar a Caminho de São Paulo.