“Sempre há tempo
Para a chuva, a garoa e o sol (...)
Feliz a natureza sobre nós.”
A relação do homem com a natureza se apresenta como uma questão repleta de nuances. Apesar dos desejos daqueles que verdadeiramente se preocupam com tal vínculo, como ilustram os versos acima, da canção A Natureza sobre Nós, do grupo Ira, nem sempre as intervenções humanas aparentemente ilimitadas sobre o meio ambiente deixaram consequências positivas. O homem, desde o seu nascimento, é um agente utilizador de recursos naturais e potencialmente poluidor. Por outro lado, a atividade industrial, presente em parte significativa do planeta, da forma como é conduzida, depende muito da exploração da natureza. Estudiosos do tema sinalizam que diuturnamente são gerados resíduos e mais resíduos não incorporados ao processo produtivo.
Quando falamos de natureza, obrigatoriamente identificamos os quatro elementos como parte da sua estrutura: a terra, a água, o fogo e o ar. O homem é visto como o quinto elemento. Este, contudo, difere das demais manifestações de vida ao intervir no planeta de maneira profunda, alterando os cursos de rios, poluindo mares, aterrando lagoas e pântanos, derrubando florestas, demolindo montanhas e exterminando espécies da flora e da fauna. Na esteira dessas práticas, tais ações são justificadas como necessárias ou, ainda, como sendo a procura de um progresso ilimitado.
Entendendo o progresso como elemento central do novo ou do moderno, percebe-se um distanciamento entre a conduta dos homens e a dinâmica natural do planeta – que autores observam como uma relação equivocada e paradoxal. Se, por um lado, os avanços tecnológicos propiciaram ideias de evolução, por outro, perdeu-se, simultaneamente, a capacidade de vislumbrar os limites das interferências no meio ambiente, realizadas a qualquer custo. O compositor Caetano Veloso considera em sua canção Terra:
“Terra, terra
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria”.
E, realmente, é para não esquecer, pois o planeta adoeceu e seus habitantes estão pagando uma conta de proporções incalculáveis. O maior preço é o que coloca em risco a própria existência da vida como a compreendemos.
Os inúmeros impactos relacionados ao acelerado desenvolvimento industrial e ao crescimento populacional deflagraram crises extremamente complexas. São crises que tornam necessário equilibrar as dimensões econômicas, sociais e ambientais. Essa busca por equilíbrio passa, então, a fazer parte do discurso sobre a sustentabilidade.
Desde 1972, a partir da Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, a comunidade global reflete, com extrema preocupação e interesse, sobre o ambientalismo e as condições de manutenção da vida humana na Terra, diante da percepção de que o mundo, como o compreendemos hoje, é finito. A partir do que os estudiosos chamam de crise socioambiental, especialmente quanto aos recursos naturais disponíveis para o desenvolvimento das sociedades humanas, uma questão vem sendo discutida prioritariamente: a humanidade continuará existindo se o ritmo de destruição do planeta prosseguir da forma como vem acontecendo? Outras interrogações buscam respostas e soluções. Há alternativas para a geração de energia a partir de recursos renováveis? Como aproveitar a tecnologia utilizando-a em parceria adequada com a natureza? Será possível integrar bem-estar social, crescimento econômico e sustentabilidade ecológica? Afinal, que desenvolvimento desejamos para a humanidade?
A humanidade é apenas uma das formas possíveis da vida em um todo infinitamente maior. Homens e mulheres possuem tanta importância quanto a árvore que existe, por exemplo, nos quintais de suas moradias. Em pleno alvorecer do século XXI – mas, de toda forma, antes tarde do que nunca, como ensina a sabedoria popular –, uma transformadora leitura do mundo vem sendo elaborada. Ensina o professor Paulo Nogueira Neto que o desenvolvimento democrático e sustentável “não nasceu pronto e acabado, mas urge desenvolver, aperfeiçoar e implantar como a grande ideologia do século XXI. Dela e dos seus desdobramentos, depende a qualidade de vida das gerações futuras. Não é pouca coisa. E (...) devemos considerar essas futuras gerações como o nosso próximo”.
Ao voltarmos nossa atenção para a variedade de organismos vivos, desde os micro-organismos até animais, plantas e seres humanos, todos têm funções e razões de existir dentro dessa engrenagem chamada natureza.
Os homens não são os únicos a ter direitos sobre o planeta. Cada ser, cada elemento tem direito a cumprir sua trajetória. Segundo palavras do físico Fritjof Capra, a vida contínua “não é um privilégio de apenas um organismo ou espécie, mas de um sistema ecológico”.