Um trecho da letra do Hino da Independência, de autoria do jornalista Evaristo da Veiga (1799-1837), fala da liberdade que raiava no horizonte do Brasil. A melodia, primeiramente atribuída ao maestro Marcos Antônio da Fonseca Portugal (1760-1830), seria substituída, posteriormente, por outra, composta em vibrantes notas musicais por D. Pedro I (1798-1834). Sua alteza real teve uma educação refinada, na qual constavam aulas de piano, cravo, flauta e violino – instrumentos musicais que deram outro ritmo à dinâmica das famílias que pertenciam à boa sociedade imperial e que viviam no Rio de Janeiro, novamente corte.
Registros da época e mais recentes traçam, em nuances, o perfil daquele que, segundo a historiadora Isabel Lustosa, passaria de “espectador a ator”, no palco que conduziu ao processo da emancipação política do Brasil. D. Pedro, ao assumir o papel de protagonista na cena política da época (desde o Fico, acontecido no dia 9 de janeiro de 1822), garantiu, segundo palavras do jornalista Evaristo da Veiga (1799-1837), que o “país não fosse retalhado em pequenas repúblicas inimigas, onde só dominassem a anarquia e o espírito militar”.
Após o Sete de Setembro, as circunstâncias que D. Pedro I teve pela frente não foram fáceis. Era complexa a tarefa que se apresentava: efetivar, a partir do “espaço político-simbólico do Rio de Janeiro, a montagem do Estado e da nação brasileiros”, no dizer de Carlos Eduardo Sarmento. A empreitada, de longa duração, foi pontuada por inúmeras disputas políticas, tendo como cenário a capital do Império, cada vez mais ligada “à dinâmica do mundo atlântico e, em especial, à Europa”, conclui o historiador.
No Rio de Janeiro e nas províncias próximas, a Independência seria saudada com entusiasmo. A historiadora Mary Del Priore considera que grande parte do sucesso do Grito do Ipiranga aconteceu por ter contado com o apoio das elites do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e de São Paulo. Se não fosse assim, “passaria para a História como mais um berro inconsequente do autoritário Dom Pedro”.