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A tomada da Baía de Guanabara por Duguay-Trouin. Mapa colorido de 1730. Domínio público

Era o ano de 1711. Protegido por um forte nevoeiro, o corsário francês Duguay-Trouin transpôs a barra da Baía de Guanabara. Invadiu a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, pondo em risco a vida de seus habitantes, contestando o domínio do rei de Portugal sobre o Porto do Rio de Janeiro e ameaçando avançar sobre a região das Minas, ainda sob precário controle das autoridades portuguesas.

Duguay-Trouin alegava estar vingando Duclerc – um outro corsário francês que, no ano anterior, pagara com a vida a tentativa de ocupar a cidade, tendo sido repelido pela população liderada por Bento do Amaral Coutinho.

Desta vez, porém, foi diferente. Amedrontado, o governador Francisco de Castro Morais fugiu, sem esperar o auxílio militar que vinha das Minas. Duguay-Trouin saqueou a cidade e ainda impôs a seus moradores um oneroso resgate: 610 mil cruzados, cem caixas de açúcar e 200 bois!

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O corsário francês Duguay-Trouin. In: Recueil des Combats de Duguay-Trouin, década de 1740. Domínio público

Quando Duguay-Trouin partiu, muitos dos habitantes do Rio de Janeiro voltaram a comentar que, se aquela "porta" da cidade que se abria para o mar favorecia a entrada de notícias, pessoas e mercadorias – como escravos negros –, permitia também a entrada de forasteiros, doenças e corsários, provocando-lhes medo. Naquele momento, porém, o que os habitantes da cidade não podiam imaginar – assim como os de outras possessões portuguesas na América – é que os ataques de corsários franceses não se repetiriam. Depois de 1711 não mais ocorreram incursões de corsários e invasões estrangeiras no litoral brasileiro.

Se o combalido Reino dos Bragança pôde, desde então, garantir segurança aos súditos e preservar suas possessões na América foi porque contava com a proteção política e diplomática dispensada pela Inglaterra.

Entretanto, a proteção britânica não era suficiente para eliminar os muitos focos de tensão e atrito com a monarquia espanhola. Tais focos, localizados tanto no continente europeu quanto no mundo colonial americano, agravaram-se após a subida dos Bourbon ao trono espanhol, no início do século XVIII, quando os reis da Espanha passaram a contar com a proteção política e diplomática da França.

Na América, as tensões e atritos – logo transformados em choques militares – tiveram como cenário principal a Colônia do Sacramento, fundada pelos portugueses em 1680, no estuário platino, em frente à cidade de Buenos Aires. Ali, onde as duas colonizações se encontravam, os choques eram frequentes. Muitas vezes, desencadeavam-se pelos conflitos eclodidos na Europa, nos quais os dois reinos ibéricos se posicionavam em campos opostos. E, muitas vezes, terminavam quando restabelecida a paz no continente europeu. Então, tratados eram firmados entre os dois soberanos ibéricos, definindo os limites entre suas possessões americanas, sem levar em consideração o antigo Tratado de Tordesilhas, de 1494, e os acontecimentos ocorridos na América. Foi assim em 1681, quando concluído o Tratado de Lisboa; e também ao final da Guerra de Sucessão do trono espanhol (1701-1713), quando concluídos os Tratados de Utrecht de 1713 e 1715.

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Planisfério, c. 1705. In: Atlas Historique, de Henry Abraham Chatelain. Domínio público, National Library of Australia

Em ambas as oportunidades, a proteção britânica garantiu ao rei de Portugal a posse da Colônia do Sacramento, embora ela tivesse sido conquistada militarmente pelos colonizadores espanhóis. Não sabendo se contaria para sempre com a proteção britânica, a Coroa portuguesa procurou garantir de forma mais efetiva as comunicações entre a Colônia do Sacramento e Laguna. Por isso, nas primeiras décadas do século XVIII, intensificou a ocupação do litoral meridional.